Dia da independência
Uma redação não substitui as folhas do outono, as flores, a grama molhada. Às vezes não substitui nada. Noutro dia a terapeuta me disse que andar na praia descalço acarreta o efeito esfoliante (a remoção das células mortas pra ficar com a pele suave ou linda). A areia lixa a sola dos pés. E as tardes de sol ameno de setembro? Pelo menos por aqui, que não é o Caribe.
Tantas outras coisas não podemos conseguir com uma redação. Mas uma delas não pode ser negada – a libertação. Escrever nos proporciona, antes de tudo, a possibilidade de nos libertarmos de um cara imprevisível, chato, às vezes insuportável, às vezes sereno, tolerável, colaborador – que somos nós mesmos. “Esse cara sou eu”.
Talvez por acharmos que podemos encontrar alguma coisa impalpável, que quase que vamos atingir depois de uma perseguição infrutífera. E se não for naquele dia, podemos tentar no dia seguinte. Tudo lá fora pode esperar. Mas não o que achamos que pode estar aqui dentro. E que precisa (precisa mesmo?) ser libertado. E nós – ou o nosso cara – com ele.
E a sensação mais agradável é a de que o trabalho parece não estar concluído, apesar da satisfação do término. Senão não teria graça, pois estaria finalizada a chance de nos libertarmos de novo.
Rio, 07/09/2017