Relatos de sala aula: a prisão
Era pra ser uma aula possivelmente chata sobre o conceito weberiano de Estado, monopólio da violência legítima e poder político. Já sabendo a turma que eu iria ensinar, tratei logo de pensar um mote para a aula. O mais obvio foi a questão do sistema carcerário brasileiro.
Incrível como os alunos ganharam uma injeção de ânimo e vontade de falar ao tratar do assunto. Se dispuseram até trazer informações sobre um presídio novo em Minas e um documentário sobre prisões nos EUA. Se concentram, buscam informações e seriam capazes de explicar com clareza e detalhes sobre o assunto ali despertado.
Pedi que comparassem o sistema da Suécia com o do Brasil, quanto a taxa de reincidência, taxa de homicídios, entre outras informações para a próxima aula. Ninguém me perguntou quantos pontos valia.
Não sei ao certo o motivo de tanto interesse, mas tive mais um exemplo de que o fracasso escolar pode estar mais ligado ao estranhamento entre o mundo valorativo do professor e do aluno do que questão de métodos e domínio do assunto pelo professor. Quando o interesse comum é encontrado, os papeis de professor e aluno ganham vida, funcionalidade e esperança.
As vezes o mais complicado na profissão do professor, pelo menos o que acredita que a aprendizagem precisa ser motivada, é entender que seus interesses podem não fazer sentido para o aluno e entender que interesses dos alunos podem não ser percebidos e trabalhados pelo professor.