Relatos de sala aula: a prisão

Era pra ser uma aula possivelmente chata sobre o conceito weberiano de Estado, monopólio da violência legítima e poder político. Já sabendo a turma que eu iria ensinar, tratei logo de pensar um mote para a aula. O mais obvio foi a questão do sistema carcerário brasileiro.

Incrível como os alunos ganharam uma injeção de ânimo e vontade de falar ao tratar do assunto. Se dispuseram até trazer informações sobre um presídio novo em Minas e um documentário sobre prisões nos EUA. Se concentram, buscam informações e seriam capazes de explicar com clareza e detalhes sobre o assunto ali despertado.

Pedi que comparassem o sistema da Suécia com o do Brasil, quanto a taxa de reincidência, taxa de homicídios, entre outras informações para a próxima aula. Ninguém me perguntou quantos pontos valia.

Não sei ao certo o motivo de tanto interesse, mas tive mais um exemplo de que o fracasso escolar pode estar mais ligado ao estranhamento entre o mundo valorativo do professor e do aluno do que questão de métodos e domínio do assunto pelo professor. Quando o interesse comum é encontrado, os papeis de professor e aluno ganham vida, funcionalidade e esperança.

As vezes o mais complicado na profissão do professor, pelo menos o que acredita que a aprendizagem precisa ser motivada, é entender que seus interesses podem não fazer sentido para o aluno e entender que interesses dos alunos podem não ser percebidos e trabalhados pelo professor.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 07/09/2017
Reeditado em 07/09/2017
Código do texto: T6106754
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