Os dias eram assim...

Fim de tarde ensolarada de verão, favela carioca, vizinhos sentados na calçada, pais descansando, descontraídos, depois de um dia cansativo de trabalho. Afinal, todos estavam empregados.

Na esquina, uma roda de samba ou um pequeno ensaio de novos passos para um carnaval familiar.

As crianças corriam agitadas por entre os adultos, brincando de pega-pega, pois elas não tinham videogames ou celulares. Aliás, isso nem existia. Coitadinhas eram obrigadas a brincar ao ar livre. E, quando achavam uma bala perdida, as danadinhas desembrulhavam e chupavam.

Essa cena se repetia pelo país afora em frente de casas sem tranca, sem grades e sem alarmes.

As calçadas e os carros eram lavados com mangueiras, já que não havia lava jato.

À noite, as pessoas se recolhiam para assistir a uma novela romântica, sem sexo explícito, indicada para menores de qualquer idade.

Nos estádios de futebol, encantávamo-nos com os melhores jogadores do mundo, que jogavam aqui no Brasil, vibrando numa torcida desorganizada que apenas se preocupava em xingar o juiz. Nossa seleção sagrou-se tricampeã e quem não se cuidasse levava 7a1 de nós.

Na maioria das cidades brasileiras, os vereadores, escolhidos entre os cidadãos mais respeitados da comunidade, trabalhavam gratuitamente, pois sentiam-se honrados em defender os interesses locais e se ofenderiam se alguém lhe oferecesse alguma vantagem.

As roupas não estampavam grife. As cuecas eram feitas de algodão e destinadas a carregar o saco escrotal, em vez de saco de dinheiro espúrio.

As meias tinham cheiro de chulé e jamais o odor da nota de cem.

Nas escolas, ensinavam-se português e matemática e os professores eram tidos em alta consideração.

Por triste ironia, todos nós sonhávamos com um futuro melhor.

Enfim, é uma pena que os dias não são mais assim....

(Saulo Oliveira)