TIC-TAC
De tempo em tempo, precisamos dar um tempo!
Um intervalo, que nos permita sair de cena, e revisar as falas. É como dar um “pause”, e travar os ponteiros do nosso relógio para quaisquer acontecimentos, e assim recolher-se.
É mais ou menos uma forma de organizar as gavetas da alma. Colocar a ilusão de volta no seu lugar, nossa coleção de mágoas no lixo, e trancar os “monstros” que nos atormentam no dia a dia, na gaveta mais escura!
Ao menos uma vez ao ano, temos que tirar aquele tempo para nos posicionar em frente a um espelho. Ter a coragem de examinar, cuidadosamente, cada cantinho, e então, aproveitar para tirar a poeira dos sentimentos!
Nesse tempo, olhamos para dentro de nós, e começamos um garimpo. Buscamos aquele espinho, que deve estar cravado em algum lugar por lá, pois, por vezes, faz-nos sangrar! Buscamos aquela fotografia que congelou um instante que jamais voltará, mas que nos remete a um momento maravilhoso! Buscamos aquele amor, que já não encontramos porque o “tic-tac” do relógio levou para longe!
O incrível de tudo isso, é saber que pode passar décadas, mas o nosso “melhor amigo tempo”, sempre estará lá para segurar a nossa mão e nos ajudar a lidar com o que ainda consta, salvo, na memória, naquela pasta que nomeamos como “decepções”. Porque, enquanto houver areia dentro da ampulheta, ainda haverá chance, de um dia, sabe se lá depois de quantas luas, compreendermos o que, por tantas noites, foi incompreensível, para nós e nosso travesseiro.
O fato é que, compreendendo ou não, temos que seguir contando os dias, meses e anos que o calendário abre à nossa frente. Feliz ou infelizmente, a máquina de “volta ao tempo” só existe nos desenhos em quadrinho. Parar e fazer uma faxina emocional é necessário, para acomodar a bagagem, e seguirmos viagem com mais leveza!
Varrer as folhas que o outono espalhou e tirar o mofo que o inverno deixou, é essencial para recebermos a primavera dentro de nós!
Dar uma chance àquela vontade reprimida que, em alguma altura do caminho, foi jogada de lado, e voltar a acreditar que a confiança é nossa aliada, e que o bom humor é nosso bote salva-vidas, tem a capacidade de nos encorajar a ir mais longe!
Portanto, de tempo em tempo, precisamos daquele tempo, para acertar os ponteiros conosco mesmos! Atualizar o relógio para o horário de verão, e dar por aberta mais uma temporada, daquele risco às cegas, chamado VIVER!
Foi nessa tentativa de compreender o tempo, que me lembrei de algumas simpatias e superstições ouvidas quando criança e adolescente.
Algumas me marcaram: Guardar espelho quebrado e passar por baixo de escada, atraem desgraças, dão azar e peso; Caso um gato preto passar à sua frente, dar três pancadas ou com o pé no chão, ou com a mão esquerda na parede mais próxima, para conjurar o azar; Contar estrelas, apontando-as, faz nascer verrugas nos dedos das mãos ou nos dos pés; Desenhar um sol no chão faz a chuva parar; Na noite de São João, escreva em pequenos papéis o nome de três pretendentes. Enrole-os e jogue-os em uma bacia ou copo d'água. O papel que se desenrolar primeiro indicará o nome do(a) futuro(a) companheiro(a).
Bastante ingênua, nada entendia. Com frequência, ouvia mamãe dizer:
– O povo, além de ser supersticioso, passa às voltas com simpatias. Se funcionassem, nada de ruim aconteceria. A maioria acredita e as seguem como forma de evitar o mal ou, até mesmo, para atrair e realizar coisas boas.
E nesta busca em compreender o tempo, percebi que muitas são as pendências que vivem ainda dentro de mim!
Com frequência, sento pulsar aquela velha emoção por um sonho que ainda não se realizou. E topo com tudo aquilo que ficou mal explicado, ou mal resolvido, e que não consegui dar como encerrado, e que, até agora, só pedi para vida “pendurar” na minha conta!