Castália

Castália.

A primeira vez que ouvimos a palavra, era um lugar mágico, Jacaraípe.

Ensaiávamos mergulhos no tanque no quintal. O milagre do sal e das conchas descobrimos depois, e repartimos com a avó ausente, trazendo um pedaço da praia, areia e pedras num garrafão de vinho .

Meu pai gostava de pescar de redinha de arrasto. Dois pedaços de pau, a chumbada no fundo e a cada lance o pescado, os siris no fundo do saco, direto pro samburá. Uma boa pescaria, o cesto cheio eram 5 quilos, os camarões a maior recompensa, degustávamos os rosas ali mesmo, temperados no sal marinho.

Tudo tinha sua hora e seu lugar, a maré, o rio, os lances embaixo dos galhos deitados no barranco. A gente morria de medo de cobra. Numa boca de noite sem lua, puxamos a rede riacho acima. Bateu um bicho enorme, solta que é cobra! É peixe, é cobra, ganhou o peixe! O tal do muçum, pelo tamanho um recorde em nossas aventuras. Minha mãe, arredia a novidades, se recusou a colocar a mão naquilo. Deu para a vizinha, de casa cheia, marido distante e orçamento curto. Essa família improvisava bastante no cardápio, de noite à luz de tochas, caçavam guruçás na areia da praia e faziam moquecas, jamais provamos.

A água do balneário era salobra, o que nos obrigava a jornadas diárias à Fonte Castália. Crianças, bebíamos da água de Delfos, até hoje encantados!

04/09/2017