Página em Branco
Um cigarro, um clique, e vamos lá...
Como parar de frente a uma página branca, vazia e intimidadora e não se tocar de que, na verdade, o vazio não está naquilo que não conseguimos dizer, e sim dentro de nós? Eu respondo: sendo burro ou... covarde! Tente acompanhar meu raciocínio, pois eu, assumidamente, estou te subestimando.
A página em branco é na verdade um espelho da nossa alma. Não dizer nada pode ser estratégico em muitas situações, mas na maioria das vezes é covardia mesmo.
Não preciso citar exatamente cada possibilidade da vida pra poder comparar com o "olhar no espelho". Acredito que sejamos grandinhos o suficiente pra, no mínimo, conhecer nossos próprios demônios (o que torna não encara-los mais covardia ainda). Por isso resolvi escrever sobre este tema como minha primeira crônica, pois estou completamente saturado de pessoas ao meu redor com medo de encarar seus instintos, verdades e angústias, principalmente quando eu me importo. E eu tenho certeza de que você que está lendo é um desses Frankenstein do medo que perambulam por aí, fugindo.
Desculpem a franqueza , é que eu tenho muita raiva e pouco jeito. Prometo melhorar nas próximas publicações. Por hora, paciência.
Não tenho raiva de vocês (talvez de mim mesmo). Entendo a herança maldita da nossa cultura, e isso Freud NÃO explica. Mas não posso deixar de rosnar, como solitário lobo que sou, pra certos pontos da trágica consequência que nos restou.
As carreiras profissionais, por exemplo, são construídas em cima de um pântano de medo e insegurança. Assim são também os relacionamentos amorosos. Quantos amores, quanta intensidade monogâmica não foi jogado no lixo por causa dos mesmos motivos que eu acabei de citar? Às vezes acredito que cheguei no inferno sem morrer, pois vivo em um mundo onde somos emocionalmente desonestos com nós mesmos, e sem ganhar absolutamente nada com isso! Somos ladrões que roubamos pra perder. Desrespeitamos até os nossos instintos e princípios mais básicos. Um mais um não é mais igual a dois, e este é um absurdo que ninguém diz.
Complexo. Escrever sobre isso em uma era não analógica é uma tortura, já que chovem referências sobre o caos interpessoal ao meu redor. Não dizer nada não é só literalmente não dizer absolutamente nada. Não dizer nada é também dizer errado, só que de forma mais nociva. De uma maneira mais pragmática, acontece que vemos pessoas posando de todas as formas, sendo complacentes com a pose umas das outras. Um show de horrores organizado no inferno da inclusão digital. Nesse ritmo a epidemia depressiva se espalha e a minha neurose ganha novos ares. Tudo isso por não encararem o medo de seguir o que é até instintivo: a verdade do que a gente sente, vê e pensa. E quando o fazem é rebuscado de técnica e ideologia que, no final, é a mesma coisa que merda nenhuma.
Sem sangue, sem verdade.
Pessoalmente não estou nem um pouco disposto a continuar fazendo parte disso, pro bem daquilo que eu acredito e principalmente pra minha sanidade mental. Não dá pra bancar o herói quando as vitimas sequestram a si mesmas. Porém, continuo um herói, agora de mim mesmo.
Senti, vivi e vi muitas coisas que me amedrontaram assim como todas as outras pessoas ao meu redor, por isso o tema. Mas hoje, definitivamente, eu encaro o vazio cara a cara. Engraçado que tudo isso começou com uma garota e justamente o que ela me deixou, uma página em branco.