Diário de Sonhos - #120: Don't Leave Us
Sonhei que estava em casa, sentado no sofá e assistindo televisão. Uma mulher magra de cabelos longos, castanhos e ondulados trás pipoca e coca-cola. Coloco os braços em volta dela e ficamos assistindo TV. Não sei quem é ela, mas a reconheço da faculdade. Não sei o que está passando na TV, mas começa a ficar chato. Sinto os dedos dela brincando no meu ombro, nos meus cabelos. Olho pra ela e seus olhos são lindos. Retribuo a carícia e a abraço mais forte. Ela sobe em mim.
Não estamos mais num sofá e sim numa cama. Ela me abraça e me faz carícias. Sinto que estou apaixonado por ela, e apesar de eu odiar o toque das pessoas o toque dela é bom e gosto que ela me acaricie. Ela trás o rosto para perto do meu. Ficamos um bom tempo assim, conversando sobre coisas que não lembro. Olhos nos olhos sem nunca desviar um segundo. Sinto sua boca se aproximando da minha. Fecho os olhos e me entrego. O beijo é suave, lento e demorado. Passo uma mão por sua cintura e a outra se perde entre seus longos cabelos ondulados. Tenho certeza de que estou apaixonado.
Ela tira a roupa dela e a minha também. Está tudo bem escuro e só vejo sua silhueta. Ela se posiciona acima de mim. Sinto o calor de suas coxas. Estou na beirada da cama, quase caindo. Olho pra baixo e vejo casas e prédios. Nossa cama está flutuando há muitos metros acima do chão. Tenho medo de altura, mas não consigo desviar o olhar. Sinto como se o chão estivesse me chamando. Bem baixinho ouço uma voz grave e masculina. Não, não é uma voz, mas várias. Elas entoam uma espécie de cântico ou missa, lento e grave.
Don't leave us
Don't leave us
Don't leave us
Don't leave us
Aquilo me deixa incomodado. Não sinto mais vontade de fazer amor. Ela diz que esqueceu a TV ligada. Sai até a sala e a reza acaba. Ela volta e se posiciona novamente sobre mim. Sinto seu calor, seu cheiro. Sinto-me bem de novo. Sinto-me excitado, feliz e completamente apaixonado. Sinto quando a penetro. Nos amamos devagar sem nunca parar de nos beijarmos. A velocidade aumenta. Paramos de nos beijar. Ela me cavalga com velocidade. Eu a seguro pelos quadris e aumento a velocidade. Sinto que vou ejacular. Não estamos usando camisinha. Aviso que vou tirar, mas não a tempo. Metade do esperma entrou nela. Ela deita sobre mim, me beija, me acaricia e diz que me ama. De repente seu toque já não me faz feliz. "E se eu a engravidei?!". Ter um filho com certeza está entre meus três maiores medos. Sinto-me mal. Sinto-me horrível. Tenho vontade de me matar. Só consigo pensar nisso. Suicídio. Suicídio. Suicídio. Ela dorme. Ainda estamos flutuando pelo céu. Vou até a beirada da cama e fito novamente o abismo abaixo de nós. Já não é uma cidade, mas um lago de lava borbulhante e infinito que se estende aos quatro cantos do horizonte. E ouço novamente a reza. Mais vozes, mais força. Não parece uma reza, mas uma ordem. Não são várias pessoas em uma voz, mas uma única pessoa com várias vozes.
Don't leave us
Don't leave us
Don't leave us
Don't leave us
São Paulo, três de setembro de dois mil e dezessete.