Lamento Sertanejo
Era fim de tarde, vejo um homem causticado pelo tórrido sol largar a sua labuta e se dirigir para casa. Passando entre alamedas repletas de folhas secas e flores mochas que formavam um espinhoso colchão natural. --- o caminho de todo sertanejo --- O astro rei havia se escondido por detrás das montanhas e vales deixando seu raio violáceo e multicor dourar os rios. O homem adentra a sua casa de massapé, desanimado, desiludido, desestimulado. Sobre o fogão á lenha, apenas panela vazia, nada havia para colocar naquele inócuo recipiente.

O seu dia não tinha sido dos melhores, aliás, ultimamente a sua vida era uma incógnita que tinha se tornado uma verdadeira balbúrdia, intransponível, sem nada, e nem ninguém para servir de arrimo. Que fazer quando nada se tem? Nada se colhe? Nada conquistado? Nada recebido? Que esperar de tantos “nadas”?

Difícil voltar para casa de bolso furado e barriga vazia. É de causar indignação ao ser humano observar a lavoura que não germinou. Ver a caça fugir de sua mira. Sentir o peixe escapar de seu anzol, sem ser fisgado. Olhar para o lado e não ter companhia, um alguém para adimplir. Constatar que as suas mãos ficaram esqueléticas, e adquiriram mais calos. Seus cabelos parecem mechas de fogo reluzente exposta ao sol e sua pele ressecada, enrijecida pelos maus tratos, de trato nenhum.

Açula-me o coração o angustiante fato de velo assim, deprimido olhando para o céu, e vendo aquele negrume de nuvens se amalgamando sem deixar cair o seu planto. Enquanto o solo ressequido estava implorando o declínio daquele choro celeste. Aquele homem lamentava a falta da chuva, a escassez de alimentos, a ausência do amor que se escondeu da felicidade, a falta de tudo.

A decepção que dilacerava seu peito diluísse em cascatas de Lágrimas. Seus olhos úmidos, borrifados pelo orvalho da tristeza deixaram cair uma tempestade de dissabores. E seu choro derramou cascata florida sobre o solo ressequido. Foram as suas lamuriosas gotas de lágrimas que fizeram brotar o gira-sol de ária no jardim da espera, de esperar pela esperança que tarda, mas um dia vem.
Marcos Antônio Lima
Enviado por Marcos Antônio Lima em 02/09/2017
Reeditado em 09/09/2017
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