Gritos do silêncio
E no meio da recôndita noite, eis que ouço os gritos do silêncio rodopiando em tempestade. O silêncio do trejeito da saudade que ”náufraga” inunda minha mente. Saudades de um amor que não vivi. Mas que saudade é essa? Que gritos são esses?...
--- Ouça! --- Talvez seja o eco da angustia. Sabe aquela tristeza que deixa um amargo de fel? Causado pela ausência daquele beijo, “que nunca foi dado”? Pela ânsia de sentir o calor daquele corpo, “nunca antes tocado”?
Foi desta forma que ela passou por mim “feito rio que corre pro mar”. Sabe caro leitor, aquele olhar de quem olha, mas não ver? Creio que a vida nos tenha proporcionado um encontro --- daqueles encontros com a cara-metade, que foi só a metade --- O estrugir do silêncio me permiti guardar uma leve melancolia, e várias lembranças boas; “frases nunca esquecidas reluzentes em ouro num cartão de papel”; apenas no papel; “beijo solto ao vento após receber uma caixa de chocolate”.
Foram gestos e palavras por mim guardadas em jarros de esperança. Fatores que denotavam ela saber, no âmago de sua alma. “qual” sentimento afligia a “minha”. Sei que não nos é permitido confessar sentir saudade, nem tão pouco implícito dizer que o tempo nos traz uma inexplicável sensação de alívio.
Talvez um segredo definível por amor, de uma parte, sossego “amizade” ou ascetismo pela outra. Seria desilusão? Esse fio de navalha cortante que deixa em nacos um faustoso coração?...
Subitamente acordo num inconfundível colchão de remorso em um travesseiro de recôndito despeito. O despertar vem anexado as reminiscências de uma face morena que reluz dentre as estrelas; Como citou Rubens Braga; “que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e do nosso onírico desejo”? Ela foi a desejada “estrela”, eu a poeira cósmica. Ficamos aprisionados em longínquas aureolas de um tempo que “nunca” nos pertenceu.
Marcos Antônio Lima
Enviado por Marcos Antônio Lima em 02/09/2017
Reeditado em 09/09/2017
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