No varal minhas roupas parecem novas

Hoje é sábado 02 do 09, por aqui é dia de faxina. Isso inclui lavar roupa suja. Sou dono de casa, faço o que precisa ser feito. Cozinho, lavo mas não passo. Cada um tem os dons que Deus lhe deu. Lavar a própria roupa suja ensina uma primeira lição, nada fica limpo à jato. Cozinhar ensina que cada coisa demora um tempo diferente para ficar no ponto. Cozinho, lavo mas não passo. Passar roupa é massada e não me ensina nada. E não me ensina porque muito cedo aprendi a usar roupas que não precisam ser passadas para que caiam bem no corpo. Aprendi muita coisa ainda jovem. Ainda jovem percebi que apesar de existir uma infinidade de modelos que ensinam "como viver a vida" não existe um modelo pensado exclusivamente para a pessoa que a gente vai se tornando enquanto vive. Seda, cambraia e linho fino de não sei quantos fios eu não uso. Eu não coleciono roupas, não sigo a moda. Eu uso apenas o que cabe no varal depois de limpo. É no varal que o trabalho de lavar vira poesia. É verdade, não duvide, trabalho vira poesia. Sei que é uma verdade minha e não faço troça de quem não sinta que isso é seja poesia. É que para tanto, muita água deve escorrer de cá pra lá. Com a água que lavou minha roupa lavei o quintal que é pequeno, lavei a calçada e minhas mãos continuamente. Água só não lava orgulho. Para lavar as coisas que não se vê é preciso um tanto de paciência, muita perseverança, vontade do tipo "humilde" que não se encontra nos mercados e muita, muita, muita leitura das coisas que não são escritas. Hoje é sábado, o sol me acordou cedo e fui inventar que não existe outro mês mais lindo que setembro. Levantei como se já não tivesse vivido tanto. No varal, minhas roupas parecem novas.

*

*

Baltazar