O Eu estação

Eu achava que tudo foi colorido sempre. Que o céu, sempre, foi um tanto azul, que a grama possui essa tonalidade esverdeada marcante, que veria aquelas flores, sempre, e tantas, a brotar e a esbanjar vivacidade na natureza. Eu achava que a primavera era a única estação existente. Equívocos são gerados e não há nada mais comum que isso.

Para mim, sempre, existiram as mesmas sensações, os mesmos episódios, os mesmos romances. Nunca quis que as coisas fossem dotadas do caráter efêmero. Eu gosto da comodidade de se criar vínculos profundos, sentimentos envelhecidos, quanto à data do seu nascimento, porém imortais, enquanto se pode afirmar a presença da raça humana nesse mundo vasto. Criar lares.

Mas, eu me esqueci que, de repente, correntes de massa de ar frio chegam, que o clima muda, o cenário parece ficar escuro e todo mundo se agasalha - não para suportar o frio em si, mas a solidão que o mesmo traz - eu perdi a noção de que horas são contadas, para a chegada daquela manhã ensolarada. Esqueci-me que aquela vontade de ir à praia é germinada, onde todos se reúnem e colocam o papo em dia (ou quase). Que as folhas, certo dia, caem sobre o jardim e a árvore parece ficar envergonhada por estar nua.

Eu me esqueci que, a qualquer momento, posso esbarrar-me na pior pessoa, assim como a probabilidade de ser a melhor é igual. Parece que o tempo não muda, mas ele o faz com muita verdade. Ele carrega tudo que for possível, justamente, por querer que o transitório permaneça. Eu não sei se o " para sempre" existe, é algo tão distante aos meus olhos (tudo bem, sem muita hipérbole).

Ainda não posso afirmar que alguém conseguiu destruir o melhor lado de mim, mas se o amanhã não existir, uma pessoa já fez um bom e notório trabalho. Despedaçou algumas partes. Muitas. Não tenho o direito de querer que seja como bem entendo. Reconheço também.

Quando eu já não dava mais nada por mim mesma, algumas coisas foram acontecendo e eu suplico: "ainda bem que ele chegou". Ele me fez enxergar que existem, sim, todas essas estações do ano, mas que todas têm a sua devida importância e precisam estar. Eu sorrio, o tempo todo, se ele decide fazer visita no pensamento. Aquele sorriso bobo e que demora a pedir para ir embora. Eu sei, tudo pode e, talvez, deva mudar para o bem, mas se quiser, realmente, ficar, prometo nada faltar.

Mariane Amaral
Enviado por Mariane Amaral em 31/08/2017
Reeditado em 19/05/2019
Código do texto: T6100052
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