UMA SAUDADE DE DEUS
Qual é o estofo atômico do tecido orgânico da matéria humana? Hoje uma amiga me confessou duas coisas catárticas... O português finado outrora afirmou, todo homem é uma ilha. O que há de impressionante nisso. Nada. Vamos ao que ela me confessou. Quando estou em estado de escrever, não leio, seria demais para mim. Concordei imediatamente ao tentar engolir mais concreto da materialidade humana e converter em mais palavras escritas. Acontece que mamíferos não deglutem em síntese tanta massa num só corpo, ainda que simiesco. Livros são montes de papel galvanizados e frondosos. Nem avestruz suportaria tanta matéria abstrata, em sendo. Mas usamos dessa retórica pelo azar de haver covils cavados na protuberância da pele que só são faladas quando escritas.
Eu também queria uma janela que colide com o sol avermelhado da manhã e não com asfalto e carro e prédio e gente. O olhar se cansa de não alcançar mais nada. Prédios e paredes e pessoas são sinônimos de intransponível mar absorto. Escritor cosmopolita não goza de bela vista, só resta o invisível do vidro transparente da janela.
Retomo à segunda coisa que ela me disse. Ando sentindo tanta saudade de Deus. A verdade é que a grinalda deífica jamais me levou a lugar algum. Com minha mãe foi o mesmo. Mas ter-los esquecido não significa absolutamente que as pernas não doam na via santa. Na verdade a saudade é do regaço junto ao peito. Um desejo pueril pelo úbere eternamente entumescido não é um desejo real. Mas um desejo infantil em sendo. Doravante aquele que abranda meu calo só frutifica um a mais idiota sem remédio. Para o futuro sentirei eterna saudade de Deus. Uma agave próxima à luz da janela de casa estufa o pomo e solta dele um enorme rebento de seu talo, não há nenhuma bruma esfíngica e enigmática e hermética referente ao imaculado, a não ser a filogenética materialista das moléculas atômicas em trânsito pelo multiverso. À parte isso, dizia outro finado português, tenho em mim todos os sonhos do mundo.