MEDO, UM deus CRIADOR
Certa vez em sala de aula pedi aos meus, à época, alunos do 7º ano que escrevessem em um pedaço de papel algo que lhes provocassem medo. Houve de tudo desde um inseto, passando por assombração e, por mais incrível que possa parecer, houve quem dissesse ter medo de Deus. Insta salientar, que não estou falando de pessoas adultas, mas de pessoas crianças ou, quando no muito, na tenra fase da adolescência.
Logo após eles terminarem a tarefa que os incumbi, peguei os pedacinhos de papéis e transcrevi à lousa o que estava escrito em cada um deles, mas preservei o anonimato, muito embora alguns tenham se denunciado.
Pude perceber que um zombava do medo do outro. Tal zombaria se dava, pois para aquele que zombava era incompreensível ter-se medo da coisa que o seu colega havia dito ter.
Jacob Wassermann, em sua célebre obra literária - O processo Maurizius - diz que “o medo engendra o próprio objeto que se teme”. Em outras palavras, o medo é o deus, o criador, e aquilo que tememos é a criatura. Creio ser verdade tal afirmação.
Na obra “Os quatro gigantes da alma”, de Mira y López, o medo é o primeiro dos gigantes, chamado de “o gigante negro”. O medo, consoante a Bíblia, foi o primeiro sentimento que Adão e Eva sentiram após caírem em pecado. O medo tem duas faces: uma protetiva; outra, destrutiva. O medo tem suas escalas que vai da simples depressão até ao terror.
Disse crer na afirmação de que o medo engendra o próprio objeto que se teme. Com isso posso afirmar, que o medo é o deus das nossas derrotas, é ele que nos sucumbe, que nos leva “à lona”, usando aqui uma linguagem dos lutadores. O medo é o deus que destrói os nossos sonhos, as nossas aspirações. É ele a força gravitacional que nos impede de alçarmos voo.
A primazia do medo em nossa natureza tenta de todas as formas aplacar a coragem que também há em nós. O medo, em sua primogenitura, lança mão de sua robustez a fim de aniquilar a coragem e substituí-la por um sentimento pusilânime e covarde.
Creio que em vez de tentar destruir o objeto que tememos, devemos destruir aquilo que o cria. Bom é relembrar o que já foi dito: o medo tem duas faces, uma, protetiva; outra, destrutiva.
É preciso que saibamos distinguir uma face da outra, ou seja, distinguir a face protetiva da face destrutiva. E como se faz isso? Explico, ainda que de maneira perfunctória: devemos distinguir o medo real, do medo irreal.
Bom, agora que já sabemos disso, pergunto a você: quem foi que disse que você não pode conquistar o seu sonho? Quem foi que disse que você não conseguirá falar em público? Quem foi que disse que você jamais conseguirá passar naquela prova? Quem foi que disse que você jamais será feliz? Quem foi que disse...?
Saiba de uma coisa: a partir de hoje, olhe-se no espelho e diga à imagem que verá refletida, que não tem medo, que você descobriu que um deus com um “d” minúsculo não tem poder sobre sua vida, pois ele não é nada. Mas você é tudo. Você é forte, é poderoso(a), é fonte inesgotável de superação, é fonte que jorra interminavelmente conquistas e vitórias. Diga à imagem que verá refletida que você descobriu que tem asas, e asas de águia, que poderão lhe levar às alturas e que o limite dessa altura é determinado única e exclusivamente por você. Só você poderá dizer a que altura deseja parar e descansar.
É preciso retomar o ritmo da coragem. O medo é movimento retardado, retrógado até ao ponto da completa inércia. A coragem é movimento acelerado.
É importante saber usar para nossas vitórias os nossos invólucros. Isso porque somos seres envoltos em incomensuráveis invólucros, os quais nos servem como camuflagens em nossas idas e vindas no palco da vida; os quais também nos servem de proteção em nossas vidas e mortes diárias.
Devemos descartar os invólucros do medo e da covardia e revestir-nos com os invólucros da coragem. Sabe aquele herói que existe em você, aquele que seria capaz, se preciso fosse, de matar alguém que, porventura, quisesse ferir ou matar uma pessoa a qual você ama? Pois é! É preciso trazê-lo à tona. É preciso tê-lo como o invólucro principal em tudo que for fazer.
Quando, pela primeira vez, adentrei a uma sala de aula, não como aluno, mas como professor, tive que me revestir com um invólucro de professor, em outras palavras, tive que dizer para mim mesmo que eu já era professor há muito e muito tempo. Vesti a persona de professor habilidoso e detentor de muita maestria.
Isso não foi uma mentira que contei a mim mesmo. Isso foi dizer a mim mesmo que podia ser um professor tanto quanto ou melhor que qualquer outro professor.
Para afastar o medo, refiro-me aqui ao medo destrutivo, aquele imaginário, aquele criador dos objetos fantasmagóricos, é preciso dizer, antes de tudo, a nós mesmo que somos o que queremos ser, ou que podemos ter aquilo queremos ter.
Não se contente em descer ao fundo e ali permanecer. Não se contente, ainda que seja para permanecer à meia altura, ao patamar do medíocre. Erga-se e caminhe, no seu ritmo, até ao cume, até ao infinito se preciso for. Não creia que você tem limite. Creia que você é ilimitado, que é um sempre conquistador, um desbravador do seu destino.
Para concluir, quero que sempre lembre destes conselhos bíblicos: “Não fui eu que ordenei a você? Seja forte e corajoso! Não se apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar" (Josué 1:9); “Porquanto, Deus não nos concedeu espírito de covardia” (2 Timóteo 1:7); “Quem está apavorado e não tem coragem para prosseguir? Que se retire agora e volte para casa, para que sua covardia não desanime seus irmãos!” (Deuteronômio 2:80)