O amor

O amor imedicável é o mal do mundo. É o amor que ruiu do imperialato das palavras e do esforço mental empregado para ocultação. Destrói lentamente a primeira instância do verbo amar. Ficamos sem reação, sem força física, a espera do efeito nuclear. Mal vemos que o amor e a natureza andam de mãos dadas. Passeiam pelo mundo verificando os destroços produzidos pelo tempo. Momento de reconhecer tudo e refletir quase nada.

Ao conhecer as palavras o homem produziu a casa vazia. Casa carunchenta onde reside a loucura com sua casaca amarela. Nela reside o mal do amor na escuridão onde não há mais tempo. A ciência corre em busca da eternidade. No trabalho escondemos o amor que embrutece. Um resto de amor desejado no âmago que não se decifra no abandono. E abre uma porta e foge. Férias.

Quem irá desempedernir o amor? Desembrumar sua típica afeição?

Sabemos do árduo efeito para desembaraçamento da rigidez sobre conceitos. Resultado das horas fáceis do afeto. Criatura dependente do insólito, perdida dentro da natureza inexplorada. Fruto de uma curiosidade devastadora do encarecimento do amor. Espaço de escravidão sem sentido das horas tristes. Resultado: o homem sem contexto. Temente apenas da imprecisão em busca de modelo concreto.

Estudamos pouco o tema universal do amor que se oculta. Preferimos examinar o vaso, a pedra, até a estrutura da exterioridade oriunda do espelho distorcido das mensagens. O amor oculta o amor cansado da monogamia do universo lírico, farto do reino abstrato, reino rabiscado no recôndito das almas aflitas. Os noticiários abandonaram a busca. Preferem devorar sistematicamente o domínio do plurissignificado das causas e defeitos. Submetem o amor as leituras dinâmicas porque sem ele resta apenas o escândalo. O grito na arena. O eco do deleite ufano da eternidade.

De muito pouco vale ao mundo os pacotes de abstrações e mitos promocionais. São visitas sagradas das almas secas que quanto mais buscam a salvação mais iludem o fracasso. O amor não é isso. Nem vaidade, nem canção, nem verdade. O amor é o que renasce do corpo limpo das leis. Repleto de novo fundamento como a aurora. É tudo o que temos sobre o tema. Recusa e busca. Procura desenfreada por um pequeno indício de luz na escuridão imensurável.

Enfermos do amor como o mar que não finda sob o argumento de que é excessivo, amamos. O tempo finda sobre o argumento de que é excessivo porque carece de fundamento. Pois o desamor matou o amor. O amor comum das ruas, das janelas altas, do namoro no portão e da flor na jardineira. Mas a superfluidade mantém a enfermidade do amor oculto totalmente onipresente.

As armas que surgem sobre o drama podem ser apenas truque das mensagens, severos golpes sobre o amor elaborado das canções e almas. Um pobre amor já sem conceito troca à liberdade pela imaginação.

Só o conceito de liberdade poderia livrar o amor de seu desespero informativo e alcançar resposta ao seu detido direito. Defluiria o amor com judicioso respeito às diferenças do desgastado verbo, contra o cinismo do amor na programação que oculta; oculta as verdades no porão e permanece. Amor discreto e oculto está a salvo. Não foi movido pela natureza fácil da comunicação esdrúxula.