Depois, sempre depois...

Depois que o brinquedo com chumbo foi importado. Depois que o filho engoliu. Depois que o avião caiu. Depois, sempre depois.

Depois do esgotamento o super simples. Depois da periferia a globalização. Depois da vanguarda a retaguarda. Depois do vírus o antivírus. Depois da revolução o poder vitalício. Depois da canção a barulheira. Depois da regra renovada o tédio da tradição. Depois, sempre depois.

Depois das aparições celestiais o psiquiatra. Depois da escola o lucro. Depois da escravidão a dependência. Depois da árvore a cidade. Depois do juízo a inconsistência das provas. Depois da invasão a improdutividade. Depois da calvície o tônico capilar.

Depois do Gilberto Gil o Ministério.

Depois da colonização os impostos. Depois da constituição as emendas. Depois das emendas os estatutos. Depois dos estatutos o controle social do individuo.

Depois da missa o carnaval.

Depois da monogamia o poliamor.

Depois do sexo a pensão alimentícia. Depois do caça-níquel o computador. Depois dos cassinos os jogos pela televisão.

Depois da androginia a cirurgia. Depois da irresponsabilidade social a Unesco. Depois da criança sem esperança o caráter promocional. Depois da grande poluição urbana o combate aos vícios. Depois da natureza as pesquisas. Depois, sempre depois.

Depois da descriminalização das drogas o esvaziamento das cadeias. Depois da perseguição aos comunistas a caça aos traficantes. Depois do desemprego a loteria.

Depois do Millôr o prêmio Machado de Assis.

Depois, sempre depois.

Depois de eleito o salário astronômico. Depois do analfabetismo a lei. Depois do Presidente do Senado os peritos. Depois da fidelidade partidária a troca-troca de partidos. Depois da extinção dos impostos a distribuição de renda. Depois da música a letra. Depois de tudo a esperança. Depois, sempre depois.