Cobain de carne o osso

(DVD)

Filme traz um astro que ninguém viu

Por Luciano Fortunato Silveira

Rio de Janeiro, 01 de julho de 2007

Que carta de despedida de Getúlio Vargas, que nada. O que poderia superar, em se tratando de cartas suicidas, à que Kurt Cobain, o maior ídolo da música pop dos anos noventa, escreveu para o seu amigo imaginário Bodah?

Últimos Dias, lançado agora em dvd, é um filme que não deveria passar despercebido. O Diretor dado a estranhezas, Gus Van Sant (o mesmo do ótimo Elefante), colocou na tela seu filme mais lento, monótono, esquisito, chato, e... belo. Belo é uma palavra que resume bem a coisa.

Mas há um tremendo porém: poderá ser considerado um filmaço para quem foi fã de Kurt Cobain e acompanhou aquele grande momento de efervescência e renascimento do rock, ou seja do “hard-punk-rock”, carinhosamente apelidado de grunge. Mas o espectador vai precisar de algo mais: talvez um gosto por filmes europeus ou orientais – que é o que este aqui lembra.

O roteiro é estreito como um pentelho louro de uma moça sueca. Baseia-se no seguinte: o super astro do rock, Blake – nome fictício dado a Cobain – vive seus dois últimos dias de vida em sua mansão e arredores, imerso em profunda solidão voluntária. Há amigos na casa, mas ele é essencialmente só. No ímã da geladeira um recado dizendo “a arma está no armário do quarto”.

Além do mérito, e bom senso, de não pretender trazer minúcias investigativas sobre a morte do roqueiro, o filme traz, principalmente a ótima atuação do ator Michael Pitt (de Os Sonhadores), que não poderia estar melhor caracterizado. O ator praticamente não fala, apenas balbucia. Mas como convence... Apesar de um roteiro tocado de forma excessivamente lenta, na fotografia o filme encanta. Cada fotograma poderia ser exibido em uma exposição de rock. Em muitas vezes no filme, diante da câmera parada, como a de um fotógrafo – e não de um cinegrafista – podemos notar como foi feliz a composição do ambiente. Isso salta aos nossos olhos – ainda mais quando assistimos pela segunda vez.

A cena da morte do cantor é também digna de nota. É poética. A tragédia não é, em nenhum momento, explorada como espetáculo.

Entretanto, se você não curte Nirvana, nem filmes lentos, fuja deste aqui, e vá alugar Piratas do Caribe 3. E vá comer pipoca com sal e glutamato.

Luciano Fortunato
Enviado por Luciano Fortunato em 16/08/2007
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