Sobre um tal de amor próprio (texto publicado no facebook)

Conversando com uma amiga minha, relembrei um momento que presenciei:

Em um rolê qualquer, conheci uma garota. Vamos chamá-la de Rebeca (adoro colocar novos nomes).

Estávamos em uma turma grande e chegou essa garota. Aparentava ter uns 20 a 23 anos, no máximo. Pensa em uma pessoa atraente, bonita, dentro dos padrões da sociedade! Sério. Loira com cabelo esvoaçante. Olhos verdes. Corpo tudo em cima. Vestido tubo preto com jaqueta de couro e batom vermelho.

Encarei a menina por muito tempo. Aí já criei um preconceito – pensei: deve ser enjoada, nossa, supernariz empinado.

Por minha sorte, Rebeca sentou perto de mim na roda de amigos, e deu um chute no meu preconceito – a garota, com 21 anos, já tinha morado fora em outros países por puro suor seu de trabalhar, já tinha trabalhado em ONGs com crianças carentes, ajudava uma vez por mês uma clínica de reabilitação e agora, pelo o que tinha entendido, tentava entrar na parte do exército, algo voltado a enfermagem, pois se preocupava com quem não tinha condições, e mostrou-me ainda dados sobre algumas questões do Brasil nesse quesito.

Não lembro de muita coisa, pois confesso que o chute no meu preconceito foi tão forte que perdi a direção de tudo. Garota bonita, autêntica, inteligente, culta, empática. Não tinha como eu competir com aquilo.

Até eu me apaixonaria por uma garota dessa.

Mas aí veio a questão a seguir. Mais tarde chegou, nesta roda, Antônio Henrique (mais um nome camuflado e que adoro, estilo novela mexicana).

Antônio Henrique era um cara legal. Mas só. Eu já o conhecia. Era um cara com seus 24 anos, tentando sua segunda faculdade, agora voltada para ADM, trabalhava com uma loja de peças e gastava parte do seu dinheiro com bebidas ao fim de semana.

Até que era atraente, mas nada de tão chamativo. Tinha boas piadas e era bom naquele papo engraçado.

Quando Antônio chegou, vi que Rebeca ficou apreensiva. Com sorrisão no rosto, se dirigiu a ele, e notei o momento com os dois.

Enquanto em meu olhar eu via aquela menina como: FILHA, VOCÊ É DEMAIS, QUE HISTÓRIAS VOCÊ TEM, POR FAVOR PRECISO DE MAIS GENTE ASSIM EM MINHA VOLTA, VAMOS SER BFF (BEST FRIEND FOREVER) E MONTAR UM PROJETO BRUTO DE TRANSFORMAR O MUNDO, notei que Antônio não tinha esse mesmo olhar com Rebeca.

Ele logo se afastou dela, foi para perto de outros caras, foi olhar outras meninas que estavam no rolê. Rebeca voltou pra perto de mim, já cabisbaixa.

Não tô aqui pra falar da atitude de Antônio. Cada um dá o que tem.

Mas fiquei perplexa com Rebeca: loira, olho verde, corpão, e além do físico, era A GAROTA nas atitudes sobre a vida.

Mas me parecia faltar algo nela. Autoestima? Autoconfiança?

Rebeca é um supercurrículo que poderia escolher qualquer um daquele rolê ou de qualquer outro lugar, ela é um partidão e muito!

Mas não – mesmo com tantas qualidades, e após conversando mais um pouco sobre seu lado pessoal, Rebeca não se achava tudo isso não – começou até a se comparar com as outras garotas na roda. Como ela podia se comparar, se cada uma é uma e ela tinha tantos atributos desenvolvidos?

E o que me fez refletir foi o seguinte: ninguém está a salvo no quesito AMOR PRÓPRIO.

Não foi só com Rebeca, mas já vi muitas mulheres inspiradoras (e homens inspiradores também, pois não devo generalizar) por dentro e por fora, mas que isso ia ao chão para poder estar ao lado de alguém que não olhava com esses olhos.

Essa outra pessoa que está errada? Não sei.

Mas que há falta de um amorzinho gostoso próprio, de que o “mundo é bão, Sebastião”, e que podemos ser felizes em qualquer situação sem precisar exatamente depender de uma pessoa, isso falta. Não só em Rebeca, não só naquela pessoa “foda”.

Falta em mim também.

Falta em você também.

Quantas vezes já não nos “rebaixamos” pra ficar perto de alguém que não nos contemplava, que não nos olhava como "NOSSA VOCÊ É SENSACIONAL"?

Só olhava como "ok", e ainda nem se esforçava pra ficar perto, até porque SABIA que íamos mesmo ficar em volta etc.

Quem nunca?

Não tô aqui pra falar que há várias pessoas (algumas são realmente babacas) que nos desvalorizam e vão desvalorizar. Isso sempre vai ter. Vai ter no Brasil, na Argentina, na Europa e na Índia. Essas pessoas vão continuar sendo elas, porque é o que elas têm para oferecer.

Mas e você? Já pensou como pode mudar isso?

Como pode se curtir mais e, como diria meu grupo filosófico de pagode chamado Revelação, deixar acontecer naturalmente?

Hoje desenvolvemos muito EGOÍSMO e INDIVIDUALIDADE, mas perdemos realmente o conceito de AMOR PRÓPRIO. Não confundir, ok? É importante.

E não sou eu que vou dizer o que é isso, até porque todo dia é dia de descobrir mais sobre esse amor dentro de mim.

Estou nessa vida para aprender também.

Vamos “juntos” descobrir então?

Pois só quando sabemos o que é isso, eu acredito que tudo ao redor vira consequência, e aí transforma. Naturalmente. Até como diria Osho, filósofo indiano, como uma flor que desabrocha e repassa sua fragrância, ela não tem como segurar este perfume, e assim impacta a todos à sua volta com sua beleza e odor, uma pessoa que desenvolve seu amor próprio não vai precisar mostrar ao outro – ela desabrocha, e todos notarão isso naturalmente.

Não é fácil. Há recaídas. Mas vamos lutar contra essa maré?

Seja uma flor também.