SONHOS...
Desde cedo quando começamos a coordenar as ideias, passamos a entender que existe quase sempre uma barreira entre sonho e realidade. O que às vezes, não compreendemos é que nem toda barreira é intransponível. Quando temos um sonho e o desejamos profundamente, é bem possível que ele venha um dia, fazer parte da nossa realidade. Pode levar algum tempo, meses, anos, pode ser até que já o tenhamos esquecido e tenha sido arquivado em algum compartimento secreto do coração. Pode ser que assim como um vírus, fique alojado em alguma parte do nosso corpo, esperando o momento certo de se manifestar e tornar-se real.
E não há fase mais sonhadora do que os anos da adolescência. Queremos experimentar e viver de tudo como se o mundo fosse sempre terminar em cada dia seguinte. E nessa época, temos muitos sonhos e planos, também. Principalmente, as meninas. Como se apaixonam facilmente...ah, como sofremos por amor nessa época, e como nos decepcionamos tantas vezes. Nos apaixonamos por tudo...Pelo carinha mais bonito do colégio, pelo professor, por um filme, uma roupa da moda e por algumas bandas de sucesso da época.
Com minha filha, não foi diferente. Em plena adolescência, lá pelos anos noventa, apaixonou-se, ela e todo o time feminino do colégio, pelos “Hansons”, um grupo musical composto por três irmãos americanos de muito sucesso junto ao público feminino e que partiam os inocentes e sonhadores corações apaixonados das menininhas. Ainda posso me lembrar da original decoração do quarto da minha filha. As paredes eram totalmente cobertas pelos posters da banda. As músicas eram decoradas letra e melodia e cantadas todo o tempo. E o seu grande sonho era poder um dia, conhecê-los pessoalmente. Certa vez, participou de um concurso promovido por uma rádio. As fãs deveriam escrever cartas quilométricas com frases de amor e dedicatórias à referida banda. O prêmio seria uma viagem para assistir ao show do trio, com tudo incluído. Eu, com toda minha solidariedade materna, é claro, juntei-me a ela na confecção da carta, nada ecologicamente correta, com suas milhares de folhas. Havia letrinhas coloridas, frases de amor, corações desenhados de várias cores, símbolos bonitinhos, enfim, tudo feito com muito carinho, afeto, esperança e vontade de vencer o concurso. Infelizmente, não foi ela a vencedora. Entre lágrimas, recebeu a notícia de que não havia vencido o concurso. Doeu nela, doeu em mim, porque eu sabia o quanto ela queria aquele prêmio. Outras decepções vieram, mas essa, especialmente, marcou bastante. Afinal, eram sonhos de uma menina aos doze, treze anos de idade.
Hoje, mora no Rio de Janeiro e mesmo já tendo passado tanto tempo da paixão pelo grupo, recebo dela uma ligação dizendo que havia comprado ingresso para assistir aos “Hansons”, que se apresentavam na cidade. Já longe da adolescência, o sonho que há muito havia adormecido, torna-se real, sem nenhum esforço. E, novamente, estava ela, feliz, feito uma menina aos treze anos de idade assistindo à sua banda preferida. E esse foi seu recado: “Todos deveriam realizar seus sonhos de adolescência, nunca desistam deles”! Eu diria mais. Diria para que os sonhos não sejam esquecidos não importando a idade, sua ou deles.
Pois é, há quem tenha desistido. Há quem nunca tenha sonhado. Há quem continue sonhando...Alguns sonhos deixei que morressem. Muitos ídolos do meu tempo, já se foram. Mas ainda carrego alguns sonhos comigo. Um deles, por exemplo, é poder um dia, ver de perto a “Aurora Boreal”, deve ser a coisa mais impressionante do mundo !!! E você, tem muitos sonhos?
Elenice Bastos.