Incorporando a Portuguesa
Amigos e amigas!!
Desde já deixo meus votos de um feliz natal e feliz ano.
Em breve voltarei. Beijos a todos
Há alguns anos participava muito de palestras e feiras voltadas à inovação e aprendizado dos novos equipamentos e tendências de todo o mundo.
Certo dia, lá estava eu em mais uma feira; éramos um grupo, uns 35 no salão. Era servido um maravilhoso breakfast e havia representantes de várias empresas e cidades vizinhas. Após o desjejum, fomos para o salão onde aconteceria o tão esperado evento.
Neste tempo, eu já era atriz convicta e apaixonada pelas artes. Aliás, sempre fui. Amo artes cênicas, artes de atuar, mas poucos sabiam que eu era atriz, porque não misturava as coisas, “cada macaco no seu galho” e dessa forma a minha vida sempre foi corrida, preenchida com uma rotina de trabalho, teatro, ensaios, cursos e palestras.
Bem, neste dia o palestrante era um rapaz ainda jovem, que se expressava bem; em 45 minutos, que me pareceram intermináveis, ele encerrou o discurso sob muitos aplausos. O moço mandou bem.
Finalmente chegara a hora de explorar a feira, onde havia expositores do mundo todo. O dia prometia... Lá tinham duas moças do tipo que faziam caras e bocas, mas pelo jeito, não entendiam nada, pois parecia que falávamos em outra língua. Segundo o colega que gostava de tá bem-informado (fofoqueiro), viu-me observando elas e no ouvido disse-me: “Elas são as estagiárias e secretarias do diretor 007”. Pelo figurino, pareciam que estavam prontas para o ensaio de uma escola de samba. Não faltara nem purpurina e a maquiagem era atípica.
Paramos em um estande, a máquina era a nova tendência da Europa. Eu havia estudado seu mecanismo e suas referências, afinal, estava representando a empresa e precisava me manter atualizada, até porque poderia ser necessária uma discussão a respeito, como de fato o foi.
Fizemos um círculo em volta da máquina, cada um com seu expert no assunto. Iam as curiosidades, perguntas, até chegar um rapaz, cabelos partidos de lado, terno azul, do tipo que se olha e... PAPAI, o que é isso! Começou ele a falar de peito estufado. Falou, falou e falou um monte de asneiras e ninguém tinha coragem ou quem sabe por educação, de interromper o carinha falastrão de terno azul. “Oh, mequetrefe, tu tá falando besteira, fala sério”!
Todos se olhavam sem acreditar que estávamos ali ouvindo tantas abobrinhas, aí pensei: ‘Vou incorporar já a minha PORTUGUESA”. Era a personagem da comédia que eu estava ensaiando. Saí determinada, mas parecia o Papai Smurf.
_ O QUE TU ESTÁS A FALAR? Assim, falaste muito e nada procede.
_ O que a senhora está falando? De onde veio essa?
Uma portuguesa que se preza, com toda sua altivez, não iria deixar isso barato.
_ Tu estás a debochar de minha pessoa? De onde venho? Esta é boa, com certeza não vim da mesma comédia que tu vieste. As pessoas ali presentes riam e acharam engraçado, pois sabiam que nada do que ele falava era aproveitável.
De supetão, uma das moças disparou: “muito engraçada essa portuguesa”.
_ Ficas na tua, rapariga; o assunto aqui é com este ilustre senhor.
_ O quê? Ela me chamou de rapariga? Rapariga é você, sua PIRANHA!
_ O quê? Tu estás a falar de piranha? Esta eu gosto frita, com vinho de aperitivo.
AH!AH!AH! Geral desabou a rir, alguém gritou: “rapariga em Portugal significa moça, sua analfabeta”!
_ Estais a ver agora sua parva. Vai pro teu ensaio, vai! A escola de samba é logo ali
A outra moça falou: “jura, é mesmo? Explica-me como chegar lá. É hoje”.
_ JESUS amado, aonde eu vim parar? Tô por ver gente tão sem-noção.
Neste ínterim já havia virado uma plateia, pois é, alegria de pobre dura pouco.
Chegou um gerente da concorrência que me conhecia e ao ver a algazarra, emendou: “MARIA MENDES, que surpresa boa você aqui! Tá divulgando a sua nova comédia? Menina, eu li o texto, mas que portuga porreta, hein”!
_ “Jesus, tô lascada, minha identidade secreta foi descoberta pelo língua de bife”, pensei. As pessoas se engalfinhavam, eu puxei a colega e disse: “Aí, me ajude a sair daqui”. Só me lembro de que pegamos um táxi
Mandamos o motorista acelerar. O taxista falava “pô cara, o que vocês aprontaram para tá toda essa multidão atrás das duas”? No dia seguinte voltamos para o Rio e dentro do avião encontramos alguns conhecidos. A volta foi uma festa dentro da aeronave. Aquele improviso foi motivo de boas risadas. Quanto à peça, perdi o patrocínio e sem verba, resolvi não arriscar uma estreia. O texto está aqui no Recanto e se chama “Dois sonhos e nada em comum”. Trata-se de uma história de uma Paraíba e uma portuguesa, ambas vêm para o Rio de Janeiro tentar a sorte; a nordestina é dançarina de lambada e a portuguesa, cantora lírica. Isso dá uma confusão!
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