Apaixonados por uma Paixão
Crônica da encenação da Paixão de Cristo - 09/04/2007. ás 19h e 20min.
... “Mas o homem pecou, então Deus enviou seu filho para pagar por todos os pecados e pregar a paz na terra aos homens de boa vontade. Ele nasceria de uma virgem chamada Maria”...
Um homem.
Um povo.
Há 2007 anos atrás, o homem do povo. 2007 anos a frente um povo encenando a passagem deste homem... O maior psicólogo de todos os tempos, o maior político de todos os tempos, o maior educador de todos os tempos, o maior filho, o mais seguido, o mais odiado, o maior, o melhor.
Emanuel, Messias, filho de David, Nazareno, Consolador de Israel, Supremo pastor, Santo de Israel, Príncipe da Paz, Leão de Judá, Maior Profeta, filho Unigênito, Estrela da Manhã... Mas pode chamar de Jesus Cristo.
E ele veio, aos meados de janeiro de 2007, tomado por interesse de realizar uma encenação da vida de Jesus procurou o pároco, que por sua vez e autoridade deixou caminhos abertos para a execução, ele foi feliz, feliz, feliz.
Procurou também a Celinha, um anjo que mora aqui na terra, mais precisamente na praça, e a todos deu apoio. E como a União não faz somente açúcar, mas também a força, não havia porque do menino do teatro se unir a eles, até que após consecutivas ligações pro Anjo, conseguimos uma reunião, a primeira, o “marcos”, quer dizer, marco, é porque esse negócio de profeta na paixão acaba me confundindo. Compareceu um monte de gente. E dali, a gente partiu, infelizmente não foi o texto de minha autoria, mas disse exatamente tudo aquilo que eu queria passar, e assim começamos...
As 20hs, no centro social, alguns compareceram, o elenco pequeno, mas não conseguiram a chave do pavilhão, problema nenhum, pois era bem melhor ali, no ar fresco da noite, conversando, lembrando os velhos tempos, e ouvindo as doces vozes de Aline, Maiara, e Mana, pensando bem, só as da Maiara e da Aline. Dali ficamos assim mais alguns ensaios, decidimos os papéis, muitos fazendo dobradinha do ano anterior, alguns estreando na função, mas de qualquer forma, todos os papéis foram muito bem encomendados, Maia de maria, tudo a ver né? A Mana de Marta, ela merece, pois é um grande desafio fazê-la ser serena, triste... O Fernando de Pilatos, o bicho já imponente naturalmente, pra interpretar então, nem se fala. A Vere de Maria (irmã de Marta) que dupla hein! A Helen de Maria Madalena, ta nada a ver o caráter dela com a personalidade, mas é uma personalidade marcante, e ela sabe fazer isso. O Ismael de João Batista, o João Paulo pediu transferência de Jesus para Caifás e ladrão... Uma decepção, pois um rapaz tão bom, fazendo umas coisas daquelas. E para completar a dupla que teve total sincronia, o André, ou o “´del” que também fez ladrão e Anãs, aquele que tem um casinho com Caifás, e junto dele, morria de inveja de Jesus! A Taci de povo. O povo mais determinado que eu já vi! Nada mais justo que o Soró de Jesus, Emérson de anjo. No elenco mirim, tínhamos o João Paulo como menino Jesus, quando na verdade ele queria ser era demônio também, porque se eu esquecesse minha fala, ele lembrava. O Matheus, irmão da Regy de menino povo, e o Thyago de mais um jesus... Nossa, que fôlego e fogo tinha essa maria, depois era santa, tendo três Jesus, sendo que dois eram quase da mesma idade... E depois é Verônica e Maria Madalena que levam a má fama. A Regy fez anciã, a anciã mais jovem que já conheci. Eu fiz demônio, e de última hora, aos 45 do segundo tempo, as 18hs de uma sexta-feira a tarde, quase fechando o expediente, o Luiz foi escalado para Judas, e Ivan para Tomé. Sinto muito por não lembrar de exatamente todos.
Depois dos encontros na praça da igreja, e das leituras nos degraus da matriz, migramos para Sta. Terezinha, onde discutimos marcações e intenções, eu e a mana discutimos muitos estas marcações e intenções. Também fizemos exercícios, falando em exercício, quem não lembra do pato?... Que pato?
E como a gente não gosta mesmo de ficar parado, arrumamos as malas e fomos então para a sala do shalom. Tudo de bom aquela sala, janelinhas, anjinhos nas paredes, a gente ficava brincando de se jogar da janela, gritando com as pessoas lá embaixo, e escolhendo os carros que passavam na rua. E como a gente não gosta mesmo , mas nem um pouquinho de ficar parado, fomos para o Centro Social. O antro onde residia toda magia, com suas escadarias, palcos, coxias, camarins, ante-salas, e um punhado de boa acolhida e conforto. Lá que rolou o grosso da nossa paixão. Ensaios assíduos, comentários, e núcleos, horários diversos, sexta as 20h, sábado as 19h, e domingo as 18h. embora as vezes começassem um pouco mais cedo sem sabermos. Lá que rolaram os maiores bafafás, as marcações, os “stresses” , e as alegrias, os núcleso de conversa: as vezes uma roda de violão, as vezes alguém tirando um cochilo, a roda dos solteiros, e a roda de casaizinhos, e o que deu de casaizinhos, não está registrado, nem na bíblia, já que era o nosso livro guia. Era igual a cinema: as cenas estavam tolando lá na frente, enquanto tinha aquele vuco-vuco, aquela coisa, aquelas pegadas! Espero só que não sejam passageiros, e como disse um cara lá: “que não dure para sempre, mas que seja eterno enquanto dure!” No pavilhão tivemos o ensaio das músicas, sim porque teríamos músicas, em algumas cenas ao invés do tradicional diálogo, belas vozes interpretando um canção. E belas vozes mesmo! Começamos as cenas, “Muito show!” Quando não era “Muito bom hein!” tivemos prática de dança de salão, enfatizando tango, e até momento “remember” de Romeu e Julieta. Fomos seguindo em frente, “caminhando com o nazareno”. Eu, e os meus incríveis poderes mágicos, a mana mais sarcástica do que nunca implorando pela vaga de soldado, e dá-lhe chicotada! Ismael, louco pra tomar um banho no lago. Eu sei que já citei isso, mas Caifás e Anás numa sincronia total. Maria, sofrendo tanto tadinha, que nos fazia esquecer tudo quando caía na risada, ou reclamava dos joelhos... sem falar no PORRA, na frente do padre. Jesus de total presença, Maria Madalena, sem saber se ajoelhava, chorava, olhava para os pés de Jesus ou não, Marta revoltada, como bem previa, Maria sua irmã flexível, mas chatinha também, lembrei muito das irmãs da Cinderela ao ver as cenas delas. Verônica com aquela toalha super fashion estampada com motivos “jesulísticos”, e as suas expressões na hora da música. os meninos “jesuses” muito bem treinados e disciplinados. Judas e Tomé, com memória e vontade de elefante, pela rapidez e garra. E Lázaro, coitado. Mal dava pra ver o menino: “Quem és tu criatura horrenda?” “Eu sou o Lázaro presuntel”... Pilatos era tão pão duro, que não pagou a água e cortaram, pois na hora de lavar as mãos, foi com muito esforço que ele conseguiu algumas gotas... e assim fomos caminhando, seguindo o nazareno, numa grande marcha em rumo ao paraíso.
Um generoso calendário nos fornece tempo pra que tudo dê ao menos a aparência de perfeito, até que a santa semana, quer dizer, semana santa chegou. Todos na ativa, ansiosos pra lá de Bagdá, ou quer dizer, pra lá de Jerusalém. O palco em seu esqueleto, a platéia e as cruzes no lugar. O Soró batalhando muito pra tudo dar certo, aquele outro anjo, não o safado que estava esperando Maria no quarto, a Celinha, lutando nos bastidores pela mesma causa. Quinta-feira, galerinha, santidade, jerusalém, enfim, o elenco reunido mostrando do que é capaz um rolo de papel pardo, mostrando do que é capaz o ser humano e sua criatividade. Eu sei que pode ser muito sensacionalismo com as causas, mas foi realmente um milagre, e todos os detalhes, os lugares do palco: Palácio de Pilatos, sem água, lembrem-se bem disto. A Santa Ceia, com a louça suja desde 2006, compondo a mesa o preciosos pão do Vorlei, que ele fez questão de levar acompanhado da Jú. No outro lado o famoso lago, ao centro a cruz, mais pro ladinho o meu deserto, cheio de areias e pedrinhas. No outro lado, o quarto da Maria, onde aquele anjo safado a esperava. Tinha também coxinha e refri. E também estava presente o anjo, não o safado, a Celinha. A turma de Jerusalém foi embora pra mais de meia-noite, voltando na sexta-feira de manhã, onde já estava o pessoal do som, e iluminação, e aquela parafernalha toda que deixa o espetáculo muito mais bonito. Enfim tivemos acesso as roupas, e conferimos os modelitos super fashion, inclusive as roupas de baixo, tratando-se das cuequinhas dos ladrões. A roupa do demônio todo mundo queria dar uma usadinha, aquela experimentada básica sabe. Separada as roupas, colocamos mais detalhes ao cenário. Depois do almoço, o tradicional almoço do elenco, risoto de camarão, assistiram ao filme, a paixão de cristo do Mel Gibson, aquela que o cara se inspirou na nossa criação pra fazer a dele. Também fiscalizaram a iluminação, tiraram uma soneca, alguns açougueiros de plantão faziam sangue. Fugindo dos flashs do anjo, não a Celinha, o safado. Pois ele estava sempre atento com sua câmera, aparecendo em qualquer canto ou fresta pra captar o mínimo flagra. E aquele sangue ficou tudo de bom, uma delícia: chocolate, mel, e corante, unnnn..... Dava até gosto ser vampiro!
Até que chegou a hora de fazer as unhas. Com certeza já ouviram falar no advogado do diabo, agora também existe a manicure do diabo. Muito competente, foi uma verdadeira transformação, ao qual o anjo, registrou muito bem, de todas as formas, mas a pessoa ficou tão empolgada que era pra fazer só a mão, e ela também fez o pé. Melecando o chão e o meu dedo. Ensaiamos e a minha mão era a sensação. Dali pra frente só detalhes. Uma sessão de fotos incrível que deu até medo, e provocou muitas risadas.
E tinha até estrelinha no ensaio de Maria e do anjo safado, mas descartamos as estrelinhas. Muito chocolate, e até que chegou a hora H, um pouco temerosos pela chuva, mas o pior era minha roupa perdida. Até que conseguimos dar jeito, e fiquei pronto na terceira cena... a minha era a quarta, foi só dar uma respirada e entrar, parece que a chuva também queria entrar, mas nem atrapalhou tanto. Vi gente chorando, vi gente fugindo do canhão de luz. Vi gente no lugar errado do foco, vi gente sem véu, vi muita gente arrasando naquele palco, realmente emocionante, só que não viu nada foi o cego, e Lázaro. Os ladrões dando cabeçadas, os soldados passando um pouquinho de trabalho pra levantar Jesus, e um maldita pedra em que o demônio quase escorregou.
E tudo lindo, lindo, de uma beleza incrível realmente. E o que foi aquela trilha sonora, e a marcação? Tudo de bom, “Muito show!” “Muito bom hein!” aplausos, sorrisos, satisfação, certeza do dever cumprido e já uma ponta de saudade. Sabe aquele sorriso que você não consegue desfazer, que chega a parecer falso, de doer o maxilar, mas de uma sinceridade e alegria que só quem o carrega sabe compreender. Tudo lindo, lindo, de uma beleza incrível realmente, cumprimentos, gente que jamais tínhamos imaginado que iria. Velhos amigos pra matar saudade, e discretos admiradores. É esse o nosso pagamento, de certa forma alimento ao ego, uma admiração, um agradecimento. A amizade de todos... Era então, já que não conseguimos ficar parados mesmo, comemorar.
Fomos então pro Blue Brasil, e depois de beber já umas caipirinhas, e desfazer um bom pedido fomos embora. Como não gostamos mesmo, mesmo, mesmo de ficar parados, fomos para Zorzi, lá mais caipirinha, mais sorrisos, e a mana que teve de ser puxada por um guincho, depois de tanto comer! E de lá, um belo cais, já que nem, todos ficaram a beira do lago artificial, era hora de ficarem a beira de um rio, e de verdade. Mais uma boa roda de violão e fotos, muitas fotos e piadas... Presenças ilustres, até que a noite acabou, deixando conosco a certeza de que tudo valeu a pena, de que absolutamente nada foi em vão, que ano que vem, estaremos lá. E foi tudo “muito show”, “muito bom hein.” Que novas amizades são sempre bem-vindas.
Tudo lindo, lindo, de uma beleza incrível realmente, cumprimentos, gente que jamais tínhamos imaginado que iria. Velhos amigos pra matar saudade, e discretos admiradores. É esse o nosso pagamento, de certa forma alimento ao ego, uma admiração, um agradecimento. A amizade de todos.
...E aquele que crê em mim, viverá eternamente, e que seja assim até o final dos tempos!”