DOU LHE A VIDA PELA EDUCAÇÃO
Dou lhe tudo, contando que você me devolva um pouco de seu respeito e o reconhecimento por tudo que lhe proporcionei, para que você hoje é o que é. Se não bastassem as noites de sonos perdidas na elaboração de exercícios, projetos, provas e mais mil outras coisas, na vida de um humilde professor, para ver bem formado e bem sucedido o filho de um desconhecido, elevando o aos píncaros da gloria e com certeza, a um grande sucesso profissional, com dignidade e reconhecimento de toda a sociedade. Se não bastasse sua saúde se definhando no dia a dia, semana a semana e ano a ano se esgotando cada vez mais e mais. Se não bastasse sua voz cansada e tão rouca já quase se apagando aos ouvidos tapados de alunos irresponsáveis, descomprometidos consigo mesmos e com o futuro da nação. Se não bastasse às cobranças indevidas e tantas vezes, até mesmo injustas e ingratas por parte de pais que só sabem passar a mão na cabeça de seus filhos, dando lhes todo o apoio, sem antes constatar se esses realmente têm ou não a razão em praticar tal ato. Se não bastassem os salários de fome ofertados aos professores, pelos Estados e Municípios, fazendo com que os mesmos se desdobrem em longas jornadas de trabalhos, trabalhando em duas ou mais escolas para conseguir um pouquinho a mais para saudar seus compromissos. Se não bastasse o deslocamento de incalculáveis profissionais da área da educação, de longos e exaustivos quilômetros, distantes das residências desses professores a caminho de suas escolas, enfrentando grandes riscos e diferentes tipos de climas e estações, com o objetivo de formar cidadãos bem preparados para o governo desse país que, infelizmente, vai a cada dia mais e mais caminhando para o abismo e se mergulhando cada vez mais na corrupção, bandalheira e todo o inimaginável tipo de falcatrua. Se não bastasse a falta de respeito e reconhecimento para com esses sofridos trabalhadores que buscam o melhor para a sua nação, derramando seu suor gota a gota e incansavelmente na dedicação aos seus trabalhos, que por muitas vezes, chegam a ser até penosos. Se não bastasse tudo isso e muito mais, de todo o seu esforço e dedicação, agora estão querendo mais, muito e muito mais, além de seus extremos, além do que um digno trabalhador possa ser capaz de agüentar, além do que realmente possa suportar e sem nenhuma ajuda ou benefício se quer, seja do município ou até mesmo do próprio Estado. Estão querendo sugar mais e mais de quem deu tudo de si para a formação de um grande homem ou de uma grande mulher. Um professor não pode manifestar insatisfação com o que lhe é oferecido (?), deve sim calar sua boca e dizer sim senhor a tudo que lhe chega (?). Deve se sujeitar as ordens desordenadas de um governo corrupto (?), em troca de que? A que fim levaria esse profissional deixar se rebaixar tanto assim (?), afinal esse também teve que desembolsar uma quantidade bastante significativa para chegar até onde está na escadaria dessa sociedade miserável e podre que nunca o reconhece. Mas estão querendo mais, muito e muito mais, pois agora literalmente e com essa litania toda querem o seu próprio sangue. Querem suas próprias vidas. O sangue de um professor, quando derramado em campo de batalha, com o intuito de educar a cada cidadão do futuro, dando lhe honra e dignidade, é tinta que jamais será apagada da vida de seus discípulos e bons alunos. Por melhor que seja o produto de limpeza usado nessa faxina, sempre ficará como uma lembrança na memória de cada um, uma forte sombra e uma profunda marca de tudo que com ele foi escrito.
Estação do Cercado (MG), 03 de maio de 2015.