Meu Lado Polyana da Vida

 

 

            Hoje estou Polyana da vida!

            Se tivesse um gato lhe daria um chute, mas não tenho.

            Perdi dinheiro na bolsa e minha esposa avisou que vão cortar o telefone por excesso de ligações e carência absoluta de pagamento – gente insensível.

            Soube que meu chefe ligou e falou que o meu relatório ficou péssimo, se não fosse funcionário público com estabilidade, seria demitido.

            Minha filha pediu para trocar de curso de inglês, o que ela freqüenta está muito ruim, vou ter que gastar mais no outro, novo material didático, etc.

            Gostaria de torcer para o Internacional para ver tudo vermelho. Sou Goiás e verde só a camisa do time.

            Dizem para olhar para o lado e ver que sempre tem alguém pior.

            Procuro, procuro e essa bendita teoria de que quem sofre é abençoado me parece uma sacanagem cósmica surreal.

            Tenho saúde – dir-se-ia então que tudo está bem, porque então me sinto como se tivesse uma corrente atada ao pescoço?

            Pego um livro de auto-ajuda. Abro a esmo, esperando um sinal do espaço sideral.

            O livro começa: inicie o dia com um auto-elogio. Vou para diante do espelho. Encaro minha cara às 7 horas da manhã. Olheiras, novas rugas e um excesso irritante de cabelos grisalhos.

            O que eu vim fazer diante do espelho mesmo?

            Ah, o auto-elogio.

            Você está bonito! Paro para escutar uma resposta. Sinto uma risada sarcástica vindo da minha imagem. É quase uma zombaria. Virou gargalhada. Lanço o livro contra a parede e ele quase quebra um vaso sobre a mesinha no canto da sala. Faz um barulho tremendo.

            - O que você está quebrando agora, seu traste? A esposa pergunta calmamente em tom pacífico.

            - Nada, benzinho, foi um livro que escorregou...

            Recolho o livro. Tento de novo em nova página – eu disse que acordei meio Polyana.

            Diga que você se ama! Receita o livro.

            Vou ao espelho. Ele parou de gargalhar, percebo apenas um riso cínico no canto dos lábios. Ignoro-o. Encaro-me de novo.

            Eu me amo!

            - O quê? Minha esposa entra na sala – Você ficou louco? Está falando sozinho? E sai pela casa crente de que perdi o juízo.

            Encaro novamente a minha imagem. Ela rola no chão de tanto rir.

            Eu quero que a Polyana vá para o inferno...