Assim ou ...nem tanto. 106

O limite

Tenho em mim a prisão e toda a liberdade que usufruo bate nos vidros da lei, da moral e da ordem. Apesar disso saio muito pela sombra, pela beira do abismo, pelo fio da navalha que a sensível graduação do gesto impede de cortar. Ainda assim pago tudo e o mais caro é cicatriz do mal feito, a beleza do imperfeito, a atração pelo tosco. Oh, quem me dera ir além como Ícaro, quem me dera ficar aqui como pedra, quem me dera ser tudo e nada. Em vez disso, preso ao meu corpo, espero uma onda, um tempo, um vento de feição e enquanto aguardo sou santo, pecador, bárbaro ainda. Quem espera está preso ao futuro, quem não espera caiu ao poço. Mas vou onde posso e corro como se fosse livre, chego a céus mais possíveis, tomo de ti um vinho forte e danço como se dançar fosse a felicidade. Represento a festa e enquanto represento não sinto a prisão. Sou pássaro e poderia voar. Pena as asas quebradas e a dor de tentar.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 24/08/2017
Código do texto: T6093283
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