Divagações taciturnas
Ultimamente e a cada vez com mais freqüência tenho observado que o tempo a cada dia passa mais rápido, com maior celeridade que a habitual da que estava acostumado. Mal acabamos de despir as fantasias do carnaval e, pronto, já estamos em plena correria para as compras de presentes de Natal, para um novo ano, um novo ciclo. Apesar de isso não me atemorizar, já que minhas contas com o Criador estão quitadas e as terrenas são pouquíssimas e de baixo valor, de certa forma me assusta, receando não ter tempo suficiente para concluir as tantas coisas que gostaria de ver bem concluídas.
Outro aspecto que realmente me apavora, chegando a sentir taquicardia e dores no peito além da falta de ar que me acomete nessas ocasiões, mesmo que com meu irmão Ricardo e Augusto Gaioti insistindo que é decorrente dos cigarros que ainda fumo, é a rapidez com que meus melhores amigos e amigas estão sendo chamados para outros planos espirituais sem que tenha tido tempo para lhes dizer que os estimo, que os amo, que tenho absoluta necessidade deles para continuar sobrevivendo. Eles ainda não sabem o quanto são meus amigos.
Realmente, como já bem exposto por Vinicius, a amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, já que permite dividi-lo em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite rivais.
Também, que àqueles que não procuro, basta saber que eles existem e porque não os procuro sempre não posso lhes dizer o quanto gosto deles, o quanto integram minha vida, principalmente em meus momentos de introspecção. E posso lhes garantir que é gratificante saber que os ame, mesmo que não o expresse sempre.
Nas tantas vezes em que conversei com Fernando Marçal e Juracy Nen Nogueira, perguntei-lhes sobre determinados amigos de que não tinha notícias há décadas, muitos deles residentes também em Vitória, como eles e realmente assustei-me com suas respostas taxativas e categóricas: - Morreu! – restando-me somente fazer cara de paisagem e asseverar que não o sabia até então e principalmente constatar que essa fila está andando rápido demais, principalmente quando sabemos que muitos deles, contemporâneos, estão com os cartões de prioridade carimbados em suas testas e que possivelmente passarão a nossa frente.
A cada dia sou despertado pelo já tão conhecido e característico anúncio do carro do Élcio Brasileiro, que encontrou um rentável e profícuo filão comercial nos anúncios fúnebres em nossa cidade, o qual com sua voz sincopada informa que mais um dos nossos se foi. E antes que possa me dar conta de quem se trata dessa vez, o veículo e o anúncio desaparecem na próxima esquina, obrigando-me a fazer a peregrinação diária ao Bar Melo à procura do Jair, que tudo sabe e a todos conhece, em busca da confirmação e de mais cigarros para passar mais uma noite insone no aguardo do anúncio do próximo óbito.
Se se trata de amigo especial, desses guardados no lado esquerdo do peito, acomete-me uma tristeza profunda, uma vontade imensa de sentar-me em um canto e remoer minha dor, carpir minhas lágrimas e sento-me diante do computador e ponho-me a escrever minhas crônicas de despedida para ele, relembrando dados perdidos de nossas infâncias e juventudes.
Com a rapidez como estão sucedendo essas despedidas e ainda mais que estamos ainda sujeitos a que os descontroles de Kim Jong-Un e Trump, presidentes da Coréia do Norte e dos EUA que ameaçam destruir o que restou do mundo, ou talvez os desesperos da malta petista orquestrada por Lula, Dilma, Stédile e Gleisi Hoffman que querem a qualquer custo seguir o exemplo de Maduro na Venezuela e comunizar o que Temer, Maia e Meirelles ainda não conseguiu extrair do restante da população – logicamente que os deles devidamente resguardados - de repente me obriguem a escrever tantas de uma só vez, resolvi antecipar-me aos acontecimentos e passei a escrevê-las com antecedência, deixando-as gravadas no computador e publicando-as de acordo com as ocorrências.
E até mesmo para minimizar o trabalho de divulgação do Élcio Brasileiro, preparei esse pequeno texto que deverá ser o anúncio de minha subida da Ladeira da Igualdade para finalmente descansar junto de meus pais:
“Comunicamos o falecimento do poeta e escritor Luiz Henrique Mignone, o popular Henriquinho, que em vida cultuou essa cidade que tanto amou e cultuou e convidamos a todos para seu sepultamento às 16 horas. O corpo está sendo velado na capela Mortuária, agradecendo o comparecimento dos que não tiverem o que fazer e quiserem ir.”
P.S.: Amigo Walter Bacalhau – não esqueça de sua promessa de expor minha certidão de Nascimento emoldurada junto a do Stênio
Garcia. Vou cobrar!!!