A realidade do Alzheimer
A primeira vez que eu soube da existência do mal de Alzheimer foi anos atrás, ao ler sobre Rita Hayworth, atriz imortalizada pelo filme Gilda, que morreu sem lembrar que incendiara a imaginação de tantos homens. Eu era uma criança e fiquei bastante penalizada por ver como essa doença rouba nossa memória e, aos poucos, os por ela afetados vão deixando de ser eles mesmos. Ainda assim, esta me parecia uma realidade distante, como a dos filmes de terror que assustam mas que assistimos despreocupados por saber que não faz parte da nossa vida.
Hoje, já não é bem assim. O Alzheimer se tornou uma realidade na nossa sociedade, principalmente porque agora as pessoas estão vivendo mais. E afeta a todos: homens, mulheres, pobres, ricos, brancos, negros. Esse mal assusta principalmente porque sabemos que será um caminho sem volta tanto para o doente quanto para os que assumirem o encargo de cuidar dele. Essa pessoa nunca mais voltará a ser quem foi um dia e quem os acompanhar terá de aceitar que os verá decaindo lentamente até o dia da morte, que talvez signifique uma grande libertação para os doentes de Alzheimer, pois o tratamento não oferece garantias de cura, apenas retarda o avanço desse mal, sobre o qual se têm feito inúmeras pesquisas.
Nunca podemos imaginar a angústia que é para alguém observar o comportamento de um parente próximo e suspeitar que esse alguém esteja com Alzheimer ou qualquer outra demência. A possibilidade de uma pessoa próxima a nós estar involuindo é tremendamente angustiante, uma tortura, porque nos põe em contato direto com nossa mortalidade e com uma verdade cruel: ninguém está livre de qualquer desgraça. O que atinge a outros também pode nos atingir e, se tivermos chegado antes a conhecer alguma outra pessoa enfrentando problemas ao lidar com alguém com esse mal, as palavras de compaixão que houvermos dito soarão vazias, pois vemos que parecem apenas analgésicos ou paliativos para quem enfrenta um mal desses em sua vida. O mal de Alzheimer atinge a todos com a violência de um tsunami. Primeiro, vêm as suspeitas, que podemos preferir ignorar como sinais típicos da idade ou rabugice de gente velha. Mas quem tem demência tende a piorar e os sinais ficam mais fortes, obrigando-nos a abrir bem os olhos.
O problema é que a própria pessoa suspeita de sofrer desse mal pode se recusar a admitir que o tem, especialmente se foi alguém muito arrogante, acostumada a controlar tudo e todos em sua vida. Como será para ela imaginar que logo terá de depender dos outros para tudo? Horrível.
Porém, o Alzheimer se tornou um mal comum e não podemos simplesmente fingir que não existe. Resta-nos, apenas, enfrentá-lo, sabendo que a vitória final não será nossa.