Nosso Quarto
São só uma cama, uma mesa, duas cadeiras, a janela, os cabides e os quadros pendurados. O que mais me fascina neste quarto é a simplicidade.
Parece que sinto nas fibras da palhinha das cadeiras, no ranger das tábuas do chão, uma rusticidade suave, ingênua, espontânea. Os poucos cabides e roupas, a gritante ausência de excessos, isso se destaca para mim, ilustrando o menos é mais de maneira muito clara, coerente, proporcional.
A disposição dos móveis no espaço agrada imediatamente. Só depois percebo que segue uma simetria calculada, caprichada, primorosa.
O padrão das pinceladas nas paredes, no piso e na textura dos móveis me evoca uma tranquilidade, indizível, inexplicável, incrível. O tom de azul-branco que predomina, o verde-cinza do soalho, os marrons-amarelos das madeiras, isso me transmite uma harmonia encantadora, fascinante, deslumbrante.
O espaço me parece ao mesmo tempo pequeno e enorme, imenso, absoluto. Sinto que é tudo de que eu preciso. Ele me oferece uma sensação de ilimitado, irrestrito, infinito.
A perspectiva sempre me parece atraente, convidativa, acolhedora. A solidez da cama de madeira me transmite uma firmeza, uma segurança, uma permanência eterna.
Mas acho que o principal está bem ali. É a dramática intensidade da coberta vermelha que me inspira agradáveis sensações de calor, agasalhamento e confortável aconchego.
Toda vez que eu vejo esse quarto, inspiro forte, ergo os olhos, prendo a respiração. Contemplo, sinto mais uma vez o encanto, o fascínio, o meu repetido deslumbramento.
Fico imaginando passar o dia aqui, dormir, ficar com o meu amor, abrir a janela, curtir a paisagem, contemplar os quadros, ler, escrever. Ele provoca essa inspiração, essa evocação, essa libertação dos limites.
Eu me identifico tanto com esse quarto, que, mesmo ele sendo do Vincent, há muitos anos, eu o considero também muito intensamente meu.
Aline Vieira Malanovicz - 20/08/2017