VALE A PENA ESTRAGAR TUDO?

Parece ser muito fácil em nosso país agir com esperteza, como um pirata capcioso sobre o navio dos marujos no século XXI. Aquele que age assim pode até em certos momentos nos envolver, nos convencer e então, por vezes, somente depois de toda a armadilha concluída é que nos conscientizamos do mal feito. Pois muitos de nós temos o coração humanizado e urbano. Somos até em certos momentos pueris e acreditamos em poucas palavras convincentes que nos dizem. Nos rendemos a um olhar atencioso, a um sorriso de perfídia aberta e, nessa hora abrimos não somente o nosso interior, mas a casa, os documentos, a carteira, a vida inteira ao matreiro. Tudo isso porque em maioria absoluta somos um povo de bem. Não é de se admirar, mas existem aqueles que se interpõem como cordeiros, quando na verdade são lobos famintos, tentando devorar tudo que é do outro, não raramente e na calada da noite. Sem que percebamos, não será difícil entregar tudo de mão beijada e ainda achar que está tudo bem ao chamado “um sete um”. Somente quando acordamos no dia seguinte é que então percebemos o que está a nos fazer falta. Mas quando compreendemos já é tarde! A ocasião apenas revela o ladrão. Com esse pensamento, o grande escritor brasileiro, Machado de Assis, dizia que “não é a ocasião que faz o ladrão, dizia ele a alguém; o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: a ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito.”

Nossa nação é abastada em cultura, em música, em futebol, em carnaval, ciência...Temos o pulmão do mundo em nossas matas, temos águas que percorrem de norte a sul do país. País tropical, quente, de alegria e de fervor! Poderíamos ter tudo o de melhor, se não fossem uns poucos que nos atropelam e que nos deixam de queixo caído, sem chão, sem asas e sem direcionamento. Aqueles pícaros quando estão com as chaves e a chancela do povo, agem em negação a todo o juramento que fizeram para representar na política a população. Que antes da posse, esses fazem de tudo para ter a nossa atenção, furtam-nos nossa crença e depois esquecem como se nada tivéssemos mais a ver com aquele que nos sugou a dignidade. Se existem alguns que não sabem o que é a alegria, que não sabem o que é o estudo, que não sabem o que é educação é porque tiraram de nós a possibilidade de nos erguer e de enxergar uma vida diferente, de compreender que com dignidade, com honestidade, com ética e moral se pode vencer e se ter algo melhor para si e para os seus.

Tudo o que afasta a honestidade do homem, aquilo que estraga os valores e princípios humanos e que por consequência tira do carente para enriquecer o que já é rico já é indubitavelmente corrupção. Sem embaraço infere-se similarmente que o ser humano nunca está jubiloso com o que tem, mas ao mesmo tempo pode não ser sensível às necessidades do próximo. Essa ideia pode igualmente fazer prevalecer o raciocínio olho por olho e dente por dente, uma guerra fria, uma batalha desesperadora que despreza a empatia aos outros. Já dizia o líder indiano Mahatma Gandhi “olho por olho, dente por dente e o mundo acabará cego”. Por conseguinte “vale a pena” continuar nessa estrada? Vale dizer que de igual maneira que uma das origens da expressão “vale a pena” nos instrui que “pena” vem do grego poiné, como era chamado o dinheiro dado por um matador aos parentes de sua vítima – um tipo de indenização da época. Na mitologia grega, poiné era ainda a deusa responsável por impor o castigo, ou seja, a pena. Alguns historiadores usam “poinas”, assim mesmo, no plural, para descrever os espíritos que se vingavam de quem matasse pessoas. O equivalente em latim, poena, virou sinônimo de dor, sofrimento e tipos de punição aplicados por juizados civis. O termo originou dezenas de palavras em diferentes idiomas. Antigamente, na França, usava-se a expressão para se referir a alguém bem remunerado – fulano valia o trabalho, o sacrifício. Ou seja, valia a pena.

Portanto é possível absorver que agir com esperteza, em significado de se dar bem, gananciosamente por cima dos outros não será um porta bem-vinda e legitimada, nem pela jurisdição legal, tão pouco pela jurisdição moral da sociedade, que abomina cada vez mais práticas de astutos e espertalhões, que apenas enxergam os seus botões. E por conseguinte, mais uma vez nos perguntamos: vale a pena, vale a dor e o sofrimento estragar tudo assim? Todavia é plausível propagar que as ações de bem e de reconhecimento coletivo são apoiadas e ovacionadas, ainda que aquele, mesmo em seu pequeno mundo saiba agir em legalidade e moralidade nas pequenas coisas do cotidiano. E por findar essa ideia, nos lembremos das palavras de Johann Goethe, estadista alemão, que nos demonstram que “quem não é fiel às pequenas coisas, jamais será nas grandes. E não sorrateiramente, tudo ainda perpassa pelo íntimo espiritual e educativo humano, que de igual forma, atestamos através de Madre Tereza de Calcutá que nos prega que “sejamos fiéis nas pequenas coisas porque é nelas que mora a nossa força”.

Michael Stephan
Enviado por Michael Stephan em 20/08/2017
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