Um Homem, seu cão e uma sacola de pão.

Um Homem, seu cão e uma sacola de pão

Era uma manhã de Outubro e de clima seco.

Às cinco da manhã dirijo o carro por ruas estreitas da cidade que agora me abriga.

As ruas estão desertas; apenas eu, as pedras das calçadas que contam histórias e as janelas fechadas a me olharem com seus olhos amadeirados ou feitos de ferro.

Dobro uma esquina e logo meus olhos de arco íris veem no caminho, um homem, seu cão e uma sacola de pão.

Em uma das mãos, o pão, em outra um cajado a lhe sustentar os ossos já cansados pelo tempo. Parecia uma pintura a enfeitar o meu dia, carente de poesia. Seus passos curtos e seu rosto tranquilo pareciam festejar com suas companhias, o novo dia.

Era alto, esguio e negro. Os cabelos perolados em fios de um branco algodão era um lindo contraste com o negro de sua pele. Seu rosto era um retrato da negritude de fortaleza e, seu cão, fiel, também negro, alinhava uma amizade, quem sabe, antiga, marcada por uma intimidade de olhares que se cruzam e se entendem pela linguagem do coração.

O carro passa breve ao seu lado e me despeço daquela cena, para mim, poética!

Nas mãos, a direção , no pensamento, reflexão!

Era a vida simples, como peregrinos neste mundo, que agora me acorria, onde, talvez, a nós, bastasse o essencial : a própria vida a pulsar beleza na nossa caminhada terrena, um amigo fiel a acalentar o fardo da lida e, o pão de cada dia para o sustento do corpo; o amigo para o sustento da alma a dar alegria. ..

Estava ali, naquela paisagem trivial de todo dia, a lição da essencialidade para mim.

Vivendo com alguém ou apenas naquela companhia de seu cão amigo, pensei que, com ou sem o outro, conseguimos sustentar a nós próprios.

Mas, com o amigo, o pão e o trabalho milenar de cultivar a terra, agricultamos a própria vida mais feliz , nômades neste mundo a construir histórias e deixar marcas nele.

Ali estava, diante de mim, aquele quadro do dia, pintado em minha memória e a me trazer poesia : um homem, seu cão e uma sacola de pão.

(Fátima Arar, rabiscado em 4 de Outubro de 2011 )

Fátima Arar
Enviado por Fátima Arar em 20/08/2017
Reeditado em 12/12/2020
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