O CAUSO DA “COISA PRETA”

Este texto eu dedico a todos aqueles que, como eu, AINDA ganham e pagam a vida com o trabalho honesto.

Fim de tarde dum dia de trabalho exaustivo e nós mulheres, aquelas que segundo algumas opiniões ministeriais passadas trabalhamos aquém do entorno, nos damos conta daquele probleminha básico de sempre : o de ir ao supermercado para a realização da logística de abastecimento dos perecíveis semanais.

Antes de contar minha história, que é a de todos os brasileiros que ainda têm a benção de poder comer no celeiro do mundo, eu já agradeço a Deus por tal e também peço IMENSAS desculpas ao todo por ainda ser uma privilegiada (imperdoável às tantas ideologias humanísticas amalgamadas!) que ainda consome bananas, laranjas e maçãs.

Mas , naquela tarde eu, como tantos outros, poderia sonhar mais alto.

Entrei no supermercado, o primeiro que encontrei logo ali, e dei de cara com as cestas de duas variedades de frutas que aprecio muito, tidas como frutas vermelhas, coisa de luxo ao honesto brasileiro do momento e que vez ou outra colocamos no nosso e inclusive no cardápio das pessoas que urgem por antioxidantes naturais para turbinarem ou recuperarem a saúde.

Logo na entrada a oferta bondosa do dia, cujo preço original era grosseiramente riscado a mão, a nos dar a impressão desordenada de algo bem improvisado:

NECTARINAS: DE R$ 13,90 por 6,99.

AMEIXAS PRETAS: DE R$ 14,99 por 6,29.

Então, coloquei algumas unidades delas no carrinho e segui pelos corredores acreditando que havia feito o melhor negócio do mundo.

De repente, quase no caixa, um homem ainda jovem, branco, boa fala, bem apessoado e que segurava nas mãos uma famosa marca dum leite infantil ,a mim se dizia envergonhado com o que me pediria, então, me disse sua profissão e me solicitou a compra do pacote de leite para sua criança de dezoito meses, alegando que havia perdido o emprego e que, sem financeiro disponível, não a alimentava há dois dias.

Assim, distraída pelo triste fato que me pegou de surpresa, passei todas as compras no caixa sem conferir minhas frutas que passaram pelo preço original, sem o desconto ali anunciado, fato que só percebi em casa.

Na manhã seguinte, voltei ao estabelecimento, não pelo dinheiro, mas pela CAUSA CIDADÃ.

O atendimento ao cliente me explicou que faria a correção da minha perda, embora a “oferta” já estivesse fora da sua validade.

Qual não foi minha surpresa ao constatar que as nectarinas já haviam acabado, então no sistema já não mais aparecia o preço real do dia, mas as ameixas pretas, AINDA ANUNCIADAS com o desconto ali na entrada, estavam ao preço de R$ 25,99 no sistema.

Eis assim a bondade das AMEIXAS PRETAS anunciada por horas: De R$ 14, 99 por 6,29...e ali já por 25,99.

Agradeci imensamente ao estabelecimento pela caridade que me prestaram, a de cumprirem a oferta anunciada que paguei honestamente.

Bem, eu espero que meu texto fale por mim.

Só concluo a parafrasear aquela maravilhosa canção do Chico, ídolo artístico da minha geração, cuja fita K7 ganhei de aniversário há exatos quarenta anos atrás, adolescente que era a se encantar com o tudo cantado.

Volto de lá apra o aqui e o agora:

MEUS CAROS AMIGOS: “ o que eu queria lhes dizer é que por aqui, hoje, não é só a NOSSA AMEIXA que continua preta”.

Nada do que vivemos é por acaso...dum mero causo da hora improvisada.

Todo social demanda por muito tempo.

Como é triste entender e pagar a conta.