Uma crônica por causa de Reri Barretto

Tem umas coisas, uns acontecimentos que a gente fica em dúvida se deve ou não contar. Sei que eu poderia criar personagens com nomes fictícios, mas isto não teria muita graça para esta crônica. Veja se teria, eu sou uma personagem! Meu pai é outra. E tem o terceiro personagem, um taxista. Então, me diga, teria graça? Ainda mais que agora mesmo sei que tenho um leitor curioso que vai ler até a última linha. Antes quero dizer que esta página vem de uma lembrança atiçada por um texto de meu amigo Reri Barretto no qual se reporta ao Cabaré de Ciganinha. Logo ao ler o título, é como se estivesse ouvindo a voz de meu pai, ele era um apreciador de cabarés e de mulheres. Em Aracaju da época em que meu pai frequentava essas “casas suspeitas”, como ele mesmo dizia, eu soube que não eram cabarés de quinta categoria e que até o pianista Carlos Rubens, quando acabava de se apresentar no tradicional Iate Clube, seguia para tocar no Cabaré Miramar. Eu também me recordei de que, ainda bem menina, quando ia ao mercado com a minha mãe, eu a puxava pelo braço, pois queria subir umas escadarias de um cabaré que fica em um beco por ali. Ouvia aquela música e gostava, queria porque queria entrar. Nem preciso dizer o quanto minha mãe ficava brava. Quando eu estava no quarto ano ginasial, minha mãe queria que eu fosse professora primária e me forçou a ir para a Escola Normal, o que não deu certo, no ano seguinte voltei para o Atheneu. Subindo ou descendo a ladeira da Rua Laranjeiras sempre me batia com uns paqueradores, por exemplo, uns pedalando suas Monark; outro dirigindo um ônibus que de tão velho, mal conseguia subir a tal ladeira; outro que era um taxista em um Aero Wyllis. Achava todos feios e chatos, o taxista principalmente, pois tinha uma cara risonha e meio que cínica. O da marinete (ônibus) se chamava Reginaldo. Voltando ao meu pai, ele não só falava do Cabaré de Ciganinha, mas do Luz Azul, do Luz Vermelha, do Miramar. Certo dia, meu irmão andava pela noite e era ainda um adolescente. Meu pai, não satisfeito com isto, sempre saía para encontrá-lo fosse onde fosse. Eu sempre saía com meu pai, éramos muito unidos, com ele andei no Ponto Chic, na Sorveteria Iara, no Cacique, na Atalaia. Então, ele fretou um táxi e fomos para a praia, chegando lá, meu irmão não se encontrava no local onde meu pai supunha estivesse. O táxi esperando, o preço não importava. Vamos. Volto com meu pai para o centro de Aracaju. Cego que estava para achar o meu irmão, mandou que o taxista, que era muito conhecido como naquela época acontecia, tomasse conta de mim. Parou onde havia uma escada daquela que vi no mercado, mas desta vez era na Rua da Frente, ali era o famoso Cabaré Miramar. E o taxista, meu pai nem sonhava, era aquele que me paquerava todo santo dia na subida da ladeira da Rua Laranjeiras.