ESSE É O BRASIL.
Desempregado, sobra muito tempo para fazer muitas coisas, tudo aquilo que eu não fazia quando estava trabalhando, e a principal desculpa que eu dava era a falta de tempo, agora, desempregado, tempo tenho de sobra para fazer; mas eu me esbarrei em outra questão. O desânimo de fazer essas tarefas, eu desejo fazê-las, ao mesmo tempo que não quero fazê-las. É uma terrível contradição eu sei, ter tudo ao alcance das mãos, mas tão distante do meu coração, porque se a vontade não estiver no coração, de nada vale.
Eu ainda estou tentando me adaptar a essa nova fase da minha vida, lidar com todos esses sentimentos perambulando no pensamento, não está sendo nada fácil, pode parecer ao olhar alheio fácil, mas não é fácil. O problema não é o desemprego em si que me assusta, não é a primeira vez que acontece, mas, dadas as circunstâncias do momento, devido ao meu problema médico, quatro parafusos duas hastes e uma prótese entre as vértebras, tudo cravado na coluna lombar, tendo trinta e cinco anos e uma filha de seis anos para criar, tudo isso junto a atual situação do nosso Brasil, me preocupa e muito.
Desempregado, a minha única e atual ocupação como trabalho, é o ofício da escrita. Todavia, essa inglória e irreconhecida profissão, é por demais solitária, e diga-se de passagem, que, de solidão, a minha alma já está cheia. A solidão é como as nuvens pesadas e escuras em dias de grandes tempestades, assim eu me sinto por dentro, em uma terrível e grande tempestade que não parece ter fim.
Desempregado, outra atividade que passei a exercer com muita frequência, é o de levar e de buscar a minha filha na escola. Essa é uma atividade muitíssimo prazerosa, uma vez que, a escola da minha filha fica a cinco minutos da nossa casa. Geralmente eu procuro sair um pouco mais cedo, coisas de mineiro, eu gosto de chegar um pouco mais cedo, eu gosto de ficar observando as pessoas, escutando-as. Assim também eu faço quando chega a hora de buscá-la, chego primeiro que todos as outros pais, quando o portão está ainda fechado. Eu gosto de ficar no muro ao lado, de ficar observando as pessoas, que aos poucos aglomeram-se, e quando o portão é aberto, parecemos as crianças, querendo entrar todas ao mesmo tempo.
Desempregado, passei a ajudar a minha esposa nos afazeres domésticos, geralmente eu lavo as louças do almoço e do jantar, às seco e guardo tudo. Eu também lavo o banheiro, o quintal, e a garagem, tudo dentro dos meus limites devido aos parafusos na coluna. É prazeroso, embora muito cansativo, essa labuta diária e interminável, está me ajudando a controlar o fluxo de pensamentos negativos, vagos e desavisados; pensamentos esses, que geram angústias, tristezas, incertezas, lágrimas, muitas lágrimas.
Desempregado, eu sou apenas mais um na multidão, engordando as estatísticas de desemprego no Brasil, a nação inteira, de norte a sul, de Leste a oeste, está passando por uma difícil situação, não por culpa nossa, gente honesta e direita, mas graças aos mandatários e mandatárias desse país, nos encontramos nessa atual situação, e juntos, todos nós, desempregados, estamos sem saber que rumo tomar, sem saber o que exatamente fazer, mesmo fazendo de tudo um pouco, o sentimento que fica é de um vazio imenso, e a sensação é de que não estamos fazendo nada. Enquanto isso, eu continuo aqui, riscando meus pensamentos em palavras tortas, afinal, como escritor, ainda não estou desempregado, uma pena que essa profissão não é reconhecida como deveria, e tão pouco ganhamos como deveríamos, bom… Fazer o quê…. Paciência, esse é o Brasil.