D. PEDRO V E A CAIXINHA VERDE
Apesar de ser dos monarcas mais inteligentes do seu tempo, e o que mais trabalhou a favor da cultura, em Portugal (comparável ao Rei D. Duarte,) é, para muitos, quase desconhecido.
Durante os curtos anos que esteve à frente da Nação, foram inaugurados os primeiros quilómetros da linha férrea do Norte – 1856 (Lisboa - Porto); fundou-se o Curso Superior de Letras (1859); lançaram-se as primeiras linhas telegráficas (1855); e iniciou-se o primeiro-cabo submarino, entre Lisboa, Açores e Estados Unidos.
Mas, a meu ver, o que merece maior realce, foi o cuidado que teve de se manter sempre atualizado, e, principalmente, o esforço em defesa da liberdade.
A 24 de Março de 1856, D. Pedro, escreveu no seu diário: “…Não sou tão tolo que goste de meu ofício, mas hei-de trabalhar por ele, com zelo e com a perseverança, e fazer bem e florescer um pouco a moralidade.”
Os escrúpulos e o amor à verdade, levaram-no a tomar atitude inédita na política.
Diz Oliveira Martins: “ Tinha em tanta conta os que o rodeavam, cria tanto neles, que mandou pôr à porta do seu palácio, uma caixa verde, cuja chave guardava, para que o seu povo pudesse falar-lhe com franqueza, queixar-se, acusar os crimes dos governantes.”
Dizem, que teve que a retirar, porque o povo ou os políticos (?), lançaram, em lugar de pedidos e queixas, insultos e palavras injuriosas.
É bem verdade: quando se pretende dar voz a quem não a tem, os “democratas” não gostam…
Aos 10 anos teve como mestra D. Maria Carolina Mishisch. Seguiu-se Martins Basto. Aprende latim. Com 6 meses de estudo, traduz Eutrópio e Fedro; e aos 12 anos, consegue verter, para a língua pátria, textos de Virgílio, Tito Lívio e Cícero.
Aprende depois: pintura, filosofia e línguas vivas.
Aos 17 anos (1854) viaja para: Inglaterra, Bélgica, Holanda, Alemanha e França; e no ano seguinte visita: Itália e Suíça. Não viaja para se divertir, mas para aprender e contactar com políticos e homens de cultura.
Lê imenso: livros e revistas generalistas e de economia.
Era de sensibilidade e dedicação invulgar: Quando o pai (Papá), como escreve no diário, estava doente, passava, grande parte do dia, junto do leito, lendo-lhe artigos publicados em jornais, para entretê-lo e para poder estar ao par do que se passava.
Quando a epidemia de Cólera (1855-56) se espalhou por Lisboa, seguido de Febre-amarela (esta iniciou-se no Porto,) parte da população da cidade foge para a província. D. Pedro não só recusa abandonar a Capital, como visita hospitais; entra nas enfermarias, e conversa infectuosamente com os doentes.
Sabendo que há muitas crianças órfãs, auxilia-as, correndo as despesas do seu próprio bolso:
Alves Mendes, na “ Oração Fúnebre”, nas exéquias do Rei, afirma a determinado passo: “ É em balde que alguém o aconselha para que mudasse de sistema. Não! Dizia ele a seus ministros: diante da crise que dizima meus povos, não será meu coração que descanse, nem meu braço que deixe de trabalhar! …”
Em meados de 1861, o Rei desloca-se para Vila Viçosa. Depois, de curta estadia, percorre várias localidades, sendo recebido acaloradamente pelo povo.
Chegado a Lisboa, sente-se mal, e faleceu, decorridos poucos dias (11 de Novembro de 1861, pelas 19H00)
Morreu viúvo e sem filhos.
Foi casado com Dona Estefânia de Hollenzollern-sigmaringer, que faleceu um ano após ter realizado o matrimónio, deixando D. Pedro em profunda nostalgia.
Alexandre Herculano, assevera que o Rei, possuía alma pura e era de nobreza excecional. Por tudo isso ficou conhecido pelo cognome de “ Muito Amado”. Por muito ter amado: a Pátria, e principalmente o povo humilde.