É amor! Será?
- Eu ti amo.
Ele acordou com aquelas palavras martelando pesadamente em sua mente. “Eu te amo.” Ela disse isso na noite passada. É verdade que ele já a amava desde o primeiro encontro, quando ela sorriu pela primeira vez no juntar. Quando ela o beijou em frente ao portão de casa, numa cena quase tão magistral como aquelas repetidas rotineiramente pelo cinema.
Estavam juntos à três meses. Sim; três meses é pouco tempo para se conhecer uma pessoa, mas ela era tão espontânea que parecia que ele já a conhecia a muitos anos. Ele a conhecia. Já conseguia ler suas expressões e entendia a forma com que ela pensava. Sabia o que ela queria da vida. Quais eram seus sonhos, suas aspirações, seus medos e temores. Enfim, ele estava apaixonado. Isso era fato.
Ele já tinha inclusive dito isso ela, mas ela nunca retribuirá a afirmação, por isso, tudo pareceu diferente na noite anterior, quando ela espontaneamente disse às três palavras que ele esperará, 91 dias 22 horas e 16 minutos e alguns segundos para dizer.
Naquela manhã ele acordou fazendo planos. Claro, precisava ainda dar um tempo para que o relacionamento madurecesse, mas agora que ela tinha dito que ela o amava ela já estava livre para fazer planos.
Noivariam em breve. Não precisava esperar muito, afinal, ambos se amavam. Faria algo simples, mas queria convidar alguns amigos e alguns parentes para uma cerimônia simples para confirmar o noivado. Depois ele começaria a lida na casa que ele já vinha construindo há um ano. Precisava apressar as coisas. Dentro de sete ou oito meses a casa estaria pronta e então já poderia marcar a data do casamento.
Dois anos desde a marcação até a data era um bom prazo. Precisava casar em dezembro. Ele sabia que o mês de maio é o das noivas, mas dezembro é quente e é melhor arriscar enfrentar um calor infernal do que um frio congelante. Casar-se-iam na Paróquia do Padre Gilmar. Gostava dos sermões do padre Gilmar e por isso queria que ele apresentasse o matrimônio para o Homem lá de cima.
A lua de mel ia ser curta, mas inesquecível. Tinha suas economias. Sempre fora um homem econômico e tinha ainda uns trocos que o pai lhe deixou em uma conta poupança, mas não queria gastar tudo de uma só vez. Buenos Aires era um bom local. Não era Paris, nem Veneza, mas tem suas particularidades e seria o suficiente para registrar um amor eterno.
Depois era hora de pensar nos filhos. Tinha tudo planejado. Seriam três. Primeiro um menino, que seria o varão, depois uma menina que seria a princesinha e por ultimo um novo guri que seria seu companheiro na velhice. Ainda não tinha certeza nos nomes, mas estava com alguns nomes bíblicos na cabeça. Sarah, Marcos e Tiago eram seus preferidos.
Estava feliz e com um sorriso de orelha a orelha foi encontra-la. O encontro se deu em uma pizzaria. Era o intervalo para almoço. Durante a semana eles sempre almoçavam juntos. Quando ele chegou ela já havia pedido e estava tomando uma água com um canudo, ele achou aquela cena linda. Beijou-a na face e sentou no outro lado da mesa olhando para cardápio quando ela falou:
- Eu quero terminar.
Ele riu. Pensou que ela estava brincando, mas o seu semblante de preocupação comprovava que ela não estava.
- O quê? – Ele solava as palavras engasgadas. — Porque? Como assim?
- Quero terminar. Não dá mais.
- Mas por quê? O que foi que eu fiz.
- Nada, não é você! Sou eu.
Ela terminou essa ultima frase e levantou.
- Não me ligue mais. – Ela sacramentou. – Eu sinto muito.
Ele não conseguia responder. Queria gritar, esbravejar, clamar, implorar, xingar, mas suas cordas vocais estavam congeladas e a única coisa que saiu foi uma queixa, que soou ainda mais fraco do que ele esperava.
- Você disse que me amava.
- Isso não quer dizer nada. Desculpa.
Ele ficou olhando ela se distanciar. Ele ainda ouvia em sua a mente o martelar das palavras dizendo “Eu Ti amo”, mas agora o ruído do “Isso não quer dizer nada”, era predominante em seus pensamentos.