CIDADE CONVULSA
CIDADE CONVULSA
Estou em plena Avenida Brasil, no coração do Rio de Janeiro. O trânsito está muito intenso e apesar da largura da pista, os carros se arrastam com dificuldade rumo ao Centro. As motos, em alta velocidade, buzinando, se arriscam entre os veículos e põem em risco os pobres vendedores de água e biscoito, que aproveitam as paradas do trânsito para vender sua mercadoria. Olho preocupado para o relógio e me recrimino por não haver saído mais cedo. Por alguns instantes penso em seguir pela faixa seletiva mas mudo de idéia ao me deparar com um pardal. Logo entendo que não há como lutar contra o imponderável e me conformo com a situação.
Por que será que o Prefeito insiste em fazer estradas que de nada adiantarão ao invés de investir em metrô, vias suspensas e monotrilho, fico pensando. Afinal, se não se criar outros meios de transporte, o número cada vez mais crescente de carros transformará a cidade num verdadeiro caos. Eu mesmo, digo para mim, só venho de carro para o centro porque não tenho outra opção. E arremato: é tudo uma questão de vontade política. Já não se fazem administradores como Carlos Lacerda. Aquele sim pensou 50 anos a frente.
Os veículos começam a afunilar pela direita e vejo então o motivo do congestionamento: alguns homens da Prefeitura pintando a faixa de separação entre a estrada e o acostamento, exatamente as 9,00horas, estando escrito numa placa móvel: desculpe o transtorno. Estamos em obras. Irritado me pergunto: Que político imbecil é capaz de fazer uma obra como essa, nesse horário?
Logo ultrapasso o gargalo e consigo andar com mais velocidade até encontrar outro nó. Desta vez é um caminhão enguiçado na pista. Respiro fundo e prometo a mim mesmo que daqui por diante só vou à cidade de trem, apesar do desconforto. De repente sinto vontade de rir. É que o rádio de um carro ao meu lado está tocando Cidade Maravilhosa. Lembro-me então que quando construíram o Cristo Redentor, colocaram-no de frente para a zona sul e de costas para o subúrbio. Está explicado. A Cidade Maravilhosa fica do outro lado. O lado de cá é de nós, pobres mortais.