o ACERTO DE CONTAS

O ACERTO DE CONTAS

O sol estava a pino. Era hora do almoço. Sua esposa e seu filho de onze anos o esperavam na varanda do rancho. Havia sido uma manhã dura, com muita cerca para fazer e à tarde, muito novilho para marcar. Ele se considerava um homem feliz. Tinha uma linda mulher, um filho maravilhoso e um pouco de terra para cuidar.Foi recebido com um beijo carinhoso da mulher e um abraço apertado do filho.Quando já iam entrar em casa perceberam que três cavaleiros se aproximavam. Tornaram a descer os degraus da escada que os levariam para a varanda e ficaram aguardando os visitantes.Os três se aproximaram com um sorriso e, de repente, sacaram suas armas e dispararam contra a família. Como num pesadelo, recebeu o impacto da bala na cabeça, e enquanto caia, mergulhando na escuridão, ouvia os gritos de sua família, os estampidos e as gargalhadas dos assassinos.Lentamente seus olhos foram se abrindo.A consciência voltou e abruptamente se levantou, ignorando a dor e olhou à volta procurando sua mulher e filho. Um grito de dor ecoou de sua garganta ressequida, ante a cena com que se deparou: sua mulher, debruçada sobre o filho, como que tentando protege-lo, estava morta, assim como a criança, vítimas de corações diabólicos. A casa ardia em chamas, restando poucos cômodos em pé.Ignorando o fogo, entrou na casa, e abrindo uma pesada caixa, escondida sob uma escada, tirou um cinturão com dois revólveres. Saiu da casa apertando o cinturão sobre os quadris, pouco antes das paredes desabarem. Seus olhos eram duas bolas de fogo. Sua determinação não lhe permitia sentir a dor do ferimento na cabeça. Seu ódio e o desejo de vingar a família eram o único motivo de ainda estar vivo. Os grandes e únicos amores de sua vida estavam mortos; seus sonhos destruídos. Toda a sua existência se resumia, agora, em matar aqueles monstros. Depois....depois nada mais importava.Caminhou em direção ao curral, abriu a porteira, entrou e montando em pelo no seu cavalo, saiu de lá em louca cavalgada, em direção ao povoado...

Não sentiu o tempo passar. Era como se fosse um pesadelo, cheio de alucinações, onde só conseguia ver sua mulher e seu filho lhe estendendo a mão e gritando.Ao entrar na cidade, à distância, viu os cavalos dos bandidos, na porta do bar.Sem dar chance de seu cavalo parar, saltou e rapidamente dirigiu-se ao salão, abriu as portas em par, e com um olhar de leão faminto descobriu os bandidos, em uma mesa, bebendo .Sua aparência era terrível. Seus olhos faiscavam. Sua boca retorcida espumava, enquanto o sangue escorria de sua testa.Quando os homens sentados à mesa o viram, levantaram-se e a um só tempo levaram as mãos às armas.Encararam-se por alguns instantes, o bastante para os assassinos entenderem que não poderiam matar a quem já estava morto. Foi quando sua voz se fez ouvir, num rouco grito de ódio:

- Morram!

Suas armas se ergueram como num relâmpago, quando outra voz se fez ouvir:

- Corta, pessoal. Chega por hoje.A filmagem foi muito boa. Amanhã retomamos.

E logo o estúdio se esvaziou, voltando a reinar o silêncio.

Pedro Lodi
Enviado por Pedro Lodi em 15/08/2017
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