A Mesa dos Ignoráveis
Podia ser um João, quem sabe um José, mas foi ele, não mais do que alguém na multidão, mas alguém feliz... Eduardo, 20 anos, desde os 10 escrevia como ninguém, não escrever de ter letra bonita, mas saber usar palavras, ser poeta, fazer mágica de um papel e caneta. E como todo sonho difícil, um sonho o atormentava desde o inicio do que ele chamava de carreira: Queria ser escritor, não importava-lhe nada na vida se não fosse ser escritor algum dia, a morte lhe seria bem mais prazerosa do que viver de um comum emprego, atrás de balcão ou distribuindo bom dia a desconhecidos. Sonhava em viver das letras, escrever best-sellers, ser entrevistado, comentado aos cochichos na calçada... Não queria fama, mas sabia que esta seria companheira e conseqüência de bom trabalho.
Fugindo dos braços de Morfeu, despertando pra realidade, e a crueldade daquele lugar chamado planeta terra, aos 17 anos Eduardo, o Edu, como era bem acarinhado pelos próximos, vestiu sua melhor roupa, lustrou sapato, treinou discurso na frente do espelho e saiu de casa em busca de fagulhas de realização, e embora soubesse que na sua pequena cidade, cidade de poucos, e cidade onde a felicidade era contada no bolso, não haveria muitas oportunidades dele mostrar seu talento aos outros, não desanimou, cruzando a soleira do portão com o pé direito, foi ao jornal mais próximo (o único) aquele ao qual uma multidão, literalmente se descabelava por um exemplar, aquele que ao verem os colunistas pessoalmente, o povo até mesmo pedia autógrafo. E eles se sentiam.
Com o mesmo pé direito, obviamente, Edu adentrou na recepção do jornal, e uma mocinha de uniforme no qual o empenho para ser simpática e agradável era totalmente em vão, lhe atendeu e em seguida, o levou, como quem levava um presidiário de volta a cela, ao proprietário do veículo de comunicação. Todos os buracos do mundo seriam pequenos para esconder Edu, naquele momento, pois ele se sentia com tanta vergonha, e ao mesmo tempo tão grande de ter conquistado aqueles passos. Tinha a certeza de um lavado e turvo NÃO, no entanto, póstumo á realização do discurso que ele formulara frente o espelho (discurso este que se retorceu completamente, e faltou pedaços, pois o nervosismo lhe impedira de fazer valer suas palavras) ouviu o (im) possível SIM. O amigo de todos.
Naquele mesmo dia, “diagramou” (palavra que teve como sinônimo de prazer e volúpia) encarcerado pelo diagramador, sua meia página, que relataria toda semana de cultura e arte.
E assim, como a chuva, o vento, e o sol, levando a semelhança ao pé da letra, já que suas palavras também molhavam, levavam e iluminavam muitas coisas, sua coluna estava lá.
Durante 365 dias fora assim, até que tratavam com indiferença o colunista, que também dera autógrafos e fora alvo dos mais ferventes e gélidos boatos. Pronto agora era artista, começara sua carreira de verdade, e agora fingia não haver nada entre a redação e ele, se tinha ainda como ilustre, e entendia que não lhe davam deveras importância devido ao fato de não ter patrocinadores, e apoio... Enfim, não lhes dava feli$$idade! Sobrepôs, e sustentou o fato mais dois anos, pois fizera amigos formidáveis, e vínculos afins. Fora então convidado para participar da festa de aniversário do jornal: “Uma década de sucesso através da comunicação”. Este era o slogan do jantar de gala. Não ganhou convite, recebeu uma ligação involuntária e pelo tom da voz, à contragosto do dono, e foi.
Entrou, os que mereciam ser cumprimentados por ele, não lhe deram oportunidade. Afinal o que era “Eduardo, o colunista”, quando se tinha a companhia de autoridades e políticos? Mas para Edu, ainda sobrava-lhe tópicos da festa que poderiam e deveriam ser perfeitos, recordou-se da mesa dos colaboradores, intensa procura e árdua decepção, era a mesa no cantinho do imenso restaurante, “A que sobrou”. E ali se instalou com as demais estrelas do periódico, tinha amigos na mesa, este tópico ao menos se fizera cumprir. Serviu-se do buffet com eles, da sobremesa com eles ingrata hora da sobremesa, onde só conseguiu sair da fila, após brigar e perfurar com excesso o pudim de leite, e da bebida gratuita também... bebida gratuita, não era de beber, mas descartando o pior, era um ápice do evento.
Mas não fora cumprimentado, sua coluna que fazia 3 anos naquela exata data, também não fora parabenizada. Ninguém passou em sua mesa, ninguém nem ao menos acenou de longe com agressividade, o confundindo com o garçom. Sentara a mesa que deveria ser nobre, não que quisesse seu rosto em uma tela de tv naquele momento, nem pronunciamentos ao microfone, mas reconhecimento, um sorriso seguido de um aperto de mão. Mas sim fora moralmente apedrejado, inexaltado, projetado aos cadáveres... Morto como um.Todos só tinham olhos para os patrocinadores, apoios, ou os que lhe rendessem algum bem.
Edu escrevia sua coluna e fazia o que fosse com amor, não com cifras.
Naquela noite entendeu que aquilo não era para ele, a vida podia e deveria ser diferente no seu caso. Deixou a coluna sem qualquer presença, somente dor, e saiu nas ruas, para longe, procurando outro meio que lhe suprisse as intelectuais necessidades... Por que aqueles, onde tivera sua “primeira vez”, era necessário ter feli$$idade!