CRÔNICA DAS CIDADES INVISÍVEIS
Essa poderia ser uma referência à crônica
de Ítalo Calvino, inspirado pelas narrativas
de Marco Polo. Quem dera este texto alcan-
çasse tão sublimes méritos.
A cidade transformou-se num espaço mais
para o angustiante do que para o acolhedor.
As praças estão sitiadas, cercadas, quase ele-
trizadas (mesmo que nenhum governante
tenha declarado estado de sítio) e os bancos,
outrora ladeados de belas begônias
e zínias para proporcionar mais encanto aos
casais de namorados, às crianças brincantes e
aos velhinhos, estão repletos de esterco de pom-
bos. Esses espaços estão isoladas do resto da
cidade, das ruas barulhentas de buzinas, de
carros poluidores.
O gramado está amarelado e as flores
estão a murchar. Os bancos que deviam dar
abrigo às pessoas são ocupados peles fezes
dos pombos. As praças se tornaram labirintos
que não pertencem mais aos cidadãos. Contra-
riam tão acentuadamente o poeta Castro Alves
que um dia declamou: “A PRAÇA É DO POVO”.