MALUQUICE TEM HORA ou, resumo de História do Brasil para vestibulandos
Era uma vez. Sim, pois se era, não é mais e, portanto, não tem mais. Você, além de não poder conferir, vai ter de acreditar, ou não, naquilo que lê. Acreditar no que lê, por óbvio, faz com que acredite em mim. Pensando bem, não sejamos tão radicais, basta que o leitor acredite na estória que vou narrar. Se, por outro lado, preferir duvidar, pense bem. Até aceito outras versões, outros pontos de vista, mas vou logo avisando que nenhuma das variantes possíveis pode ser considerada verídica, posto ser eu o autor.
Vamos começar de novo. Desta feita sem o lugar comum, de uma vez ter sido. Façamos de conta que nunca foi. Melhor assim. Ficamos no estrito campo da ficção e não se fala mais nisso. Mas, por amor ao debate, é melhor que as coisas fiquem claras, de modo que não se possa argumentar, ao final, tratar-se de estória por demais intrincada, confusa e sem pé ou cabeça. A estória em questão não tem começo, nem fim. Portanto, resta ao leitor o meio, o desenrolar, o flagrante e o momento. Quanto ao meio, trata-se de meio gasoso, vez que nós, os habitantes do planeta Terra, vivemos em atmosfera gasosa, que respiramos sem nos dar conta sequer de sua existência, imagine então de sua composição. Assim, não vamos perder tempo com isso, caso contrário poderemos enveredar por tratados científicos ou ambientais. Não é o caso. É melhor começar logo, antes que o amigo leitor perca a paciência e abandone a leitura. Neste caso, apenas para arrematar o já dito, perderá a oportunidade de conhecer o personagem que eliminou a geografia do mapa. Apesar de bastante peculiar, a frase antecedente traz em si, embutida, uma concepção e uma negação acerca da mesma e exata coisa.
No entanto, ainda resta uma dúvida a ser dividida com o caro leitor. Apenas um detalhe, mas acredito ser de suma importância para a boa compreensão do texto. Qual o exato momento, qual a fotografia, qual o ângulo de visão a ser descrito, debulhado e analisado. Como tenho um certo desprezo, digamos assim, pela estatística, ou melhor, pela manipulação que se faz com dados colhidos e tabulados, não posso (nem quero) buscar perquirir todos os leitores existentes. Assim, jamais saberemos qual o ângulo, qual o momento, que a maioria dos leitores deseja ver escancarado a sua frente. Também não posso exibí-los todos, vez que seria por demais pornográfico e acabaria censurado. E eu detesto censura, quase tanto quanto xuxu.
Infelizmente, para o leitor, tocamos em um assunto espinhoso e que merece respeito. Não, não é legume ou verdura. Trata-se das garantias e das liberdades individuais. A liberdade de ir e vir, aliada à liberdade de pensamento e de expressão. Tudo garantido na Constituição Federal. E é Federal por ser da Federação, apenas isso, afinal somos uma República Federativa.
Nosso país já se chamou Império e por força de um Golpe de Estado virou República. Palavra chave para o entendimento da roubalheira como esporte nacional. Afinal, trata-se da Res Pública, ou seja, a coisa pública, o bem de todos, como patrimônio coletivo, pertencente a todos. Indistintamente.
Um belo dia, “que belo dia” diria a música, resolveram que esse negócio de nordestino unido a sulista não era boa coisa e acabaram com os Estados Unidos do Brasil. Tempos difíceis aqueles, mais conhecidos como “a noite do Brasil”. Passamos vinte anos no escuro e, parece, que a luz na saída do túnel foi muito forte pois estamos sem enxergar direito faz algum tempo.
Criou-se, por uma canetada, a República Federativa do Brasil. Mais ou menos assim: cada um se vira como pode, puxa a brasa para onde lhe convém mais e ninguém come a sardinha. Também, foram inventar de ter um ditado popular que envolve ser marinho, coitado, que não combina com planalto. Digamos assim, para encurtar a estória: a sardinha chega no planalto e some.
Nasci nos Estados Unidos e moro na República Federativa, sem nunca ter saído do lugar. Se isto não é uma ficção, não sei o que possa ser.