Qual o preço do cachorrinho mesmo?
Era o ano de mil novecentos e noventa e um eu fazia o curso de teologia no IAE-EC, hoje Unasp – Engenheiro Coelho. Como tinha esposa e dois filhos, não era fácil a situação. Não tinha um emprego fixo, fazia um serviço aqui e outro ali, recebia ajuda da Adra, através da bondade de dona Graça Leme e do coração generoso de dona Rute Boger, entre outros colaboradores. Dona Berta, uma bondosa velhinha alemã, plantava batatas, chuchu, mandioca e levava para nós estudantes casados, no prédio onde morávamos.
Um dia fui convidado pelo pastor Sesóstris César para ser o motorista da Kombi do lar de meninas Ellen White, claro, aceitei de pronto. E logo comecei a trabalhar. Levava as meninas ao médico, dentista, buscava o leite, laranjas, lavava a Kombi, cortava a grama, e entre outras tarefas ia às compras com a chefe do lar que era a dona Ester de Oliveira.
O pastor César me pediu para dirigir até o Rio de Janeiro, mais precisamente até a cidade Areal, uns quarenta quilômetros depois de Petrópolis, onde fica a fazenda do Dr. Milton Soldani Afonso, diretor presidente da Golden Cross, mentor e mantenedor dos lares de meninas e mais um lar de menino que ficava dentro da fazenda.
Viajamos, era o mês de Julho daquele ano. Algumas meninas que moravam no Rio de Janeiro aproveitaram a carona e fomos, pastor César e dona Ester.
Quando já tínhamos rodado cerca de quatrocentos quilômetros, em Caçapava/SP, ouvi um barulho estranho no motor e logo parei. O motor havia estourado. A Kombi era novinha, daquele mesmo ano, mas uma outra chefe do lar, anterior à dona Ester, não sabia dirigir e forçou demais o motor, indo na primeira marcha até o colégio e voltando...
Ligamos para uma concessionária e vieram em nosso socorro. A Kombi foi rebocada até a oficina autorizada e foi verificado que havia derretido as bronzinas e os pistões! O motor tinha que ser refeito. O serviço começou às onze horas. Fomos almoçar meio dia e ficamos aguardando o conserto. Como o manual da kombi não estava dentro do porta luvas, como é o correto, foi preciso ligar para o Nilton, motorista da kombi do lar de meninas de Hortolândia e solicitar que ele fosse até o lar de meninas em Artur Nogueira buscar e trouxesse até Caçapava, na concessionária.
O pastor César comprou, lembro, uma revista contigo. Na capa estava a foto da Xuxa e do Presidente da Argentina Carlos Menem. O motivo era um cachorrinho que ela estava dando de presente ao presidente. Estava escrito ali o preço do cachorrinho: Três mil dólares!! Fiquei pasmo. Como um cachorrinho poderia custar tanto?!
Às quatro da tarde a oficina nos entregou a kombi, “novinha”! Prosseguimos a viagem. Dormimos em Satulina/RJ em um acampamento chamado de casa de pedra, muito bonito e reconfortante. Pela manhã seguimos e ao meio dia já estávamos na cidade do Rio de Janeiro. Deixamos as meninas na rodoviária e subimos a serra para Petrópolis. Quatro e meia da tarde estávamos entrando na fazenda do Dr. Miltom Afonso.
Uma fazenda muito linda! Cheia de pássaros e alguns animais. Dr. Miltom estava se recuperando de uma chifrada de uma veada. Ele foi pegar no filhotinho e ela o atacou e furou a coxa, coisa assim.
O objetivo de estar ali era um culto de ação de graças pelos dez anos de existência do lar de meninos ali na fazenda. Dormimos bem naquela noite, apesar do cansaço da viagem.
Na manhã seguinte Dr. Milton Afonso foi nos mostrar a fazenda e sua criação de aves exóticas. Araras, pavões, tucanos, cisnes, marrecos e uma quantidade de aves raras.
Comentei sobre o motivo da capa da revista contigo que o pastor César tinha comprado e lido na viagem e disse da minha “indignação” do preço do cachorrinho que a Xuxa deu de presente para o presidente da Argentina, Carlos Menem. O Dr. Milton me chamou mais perto dele, me fez olhar para um faisão e me disse: “Aquele é um faisão da Índia... Custou-me seis mil dólares...” Sorri e me perguntei: Quanto custou mesmo o cachorrinho da Xuxa?!! Eu não disse mais nada.
Poeta Camilo Martins
Aqui, hoje, 07.05.2015
19h17min [Noite]