A mão de papai
Eu era criança ainda, brincava, corria, subia nas árvores, caia... Tomava banho no rio Parnaíba e no rio Poty, nos açudes da cidade, quase me afogava e tudo mais!
Mas, o que eu mais gostava era de ir à feira livre com papai! É uma feira que existe no centro da capital do Piauí, Teresina, no local conhecido como “mercado velho”, muito grande e com imensas barracas e armazéns! Lembro bem do homem que vendia “Quebra queixo”!
Uma feira que tem de tudo que você possa imaginar! Eu amava ir lá, pelas pessoas mesmo que encontrávamos lá, cada tipo... Mas também pelos biscoitos, doces, tantas guloseimas caseiras... Mas tinha as frutas e cereais. Sapatos, redes e o cheiro de comida caseira...
Havia também um homem que trazia um peixe elétrico num caixote com água e dois fios desencapados nas pontas para que as pessoas pegassem e levasse um choque, aquilo era loucura, eu ficava perto só pra dá risadas, o homem vendia uma pomada feita da gordura do peixe e dizia que curava reumatismo e outras doenças mais... E eu, criança, me divertia com essas coisas! Gritos de todas as partes, cada um falando da vantagem do seu produto.
Tinha a feira dos pássaros, com passarinhos de todos os tipos, cores e tamanhos, um grande aquário com peixinhos coloridos de muitas espécies, galinhas e galos...
Numa esquina ficava um senhor de barbas longas e grisalha que vendia pintinhos de um dia, ele jogava tinta de várias cores pra chamar a atenção da meninada para que eles chorassem aos pais que comprassem... Fazer o quê...? Estratégia de vendas!
Era cedinho, um dia e papai disse que me levaria à feira. Ele sempre ia na sua velha bicicleta Philips, uma das primeiras bicicletas que chegou ao Brasil e papai tinha uma e eu amava quando ele me levava na garupa da bicicleta! Fiquei empolgado e logo me arrumei. Demorou pouco e lá íamos nós à feira do mercado velho, sempre direto pela Rua João Cabral, uma rua de paralelepípedo que passávamos embaixo do pontilhão (viaduto de metal), por onde passava o trem que ia de Teresina para São Luiz, no Maranhão.
Chegamos rapidinho à feira e papai guardou e trancou com cadeado a bicicleta e eu tratei de segurar firme a mão de papai, eu sempre segurava pelos dedos da mão dele, minha mão pequena... Quando ele parava pra comprar algo, daí eu soltava, mas ficava ali, grudadinho em papai!
Por um momento me distraí com uma banca de brinquedos, olhando os carrinhos e soltei a mão de papai... Ele seguiu adiante, nem parou ou me esperou e se foi! Fiquei desesperado porque na multidão eu não o via mais e nem sabia o rumo que ele havia tomado... Quase a chorar de medo e pavor por ter me perdido de papai, corri entre as pessoas seguindo um rumo qualquer, ou um rumo que imaginei que papai tinha seguido, demorou, mas longe, eu dando pulinhos, pois era bem pequeno, avistei papai que continuava se afastando e parando nas bancas de cereais... Ufa!! Cheguei junto a papai, respirei aliviado, quis chorar, e ele me olhou, com olhar de preocupação, mas de quem quis dá uma lição e disse: Nunca mais solte da minha mão, entendeu?!? Daquele dia em diante nunca mais soltei a mão de papai por nada desse mundo e nunca mais me perdi.
Papai hoje descansa já há onze anos, mas a lição que ele me deu naquela manhã perdurará por toda a minha vida e tomei como lição especial numa analogia à mão do Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que como nosso pai, nunca devemos largar a Sua mão que segura à nossa não querendo que nenhum de seus filhos se perca neste mundo turbulento onde há pessoas que aplaudem os que praticam a maldade. Enquanto houver pessoas que aplaudem os maus, haverá os maus que oprimirão os justos e um mundo fadado ao fracasso.
Por isso, amigo, nunca solte a mão do seu pai e que o Altíssimo o abençoe.
Dr. Camilo Martins, Ph.I
Presidente da ANL