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DAS COISAS QUE EU SEI

     Sou empregada doméstica diarista, aquela que trabalha um dia em cada casa e ouve o desabafo de mulheres traídas, reclamações de noras ciumentas, queixas de doenças, falta de dinheiro, etc. etc. ...

     Segunda feira eu vou á casa de dona Pulquéria.
    No domingo a família toda se reúne em sua casa e ela reclama que tem um trabalhão e ainda sobra pra ela à desordem e sujeira na casa toda, as noras não ajudam, os genros bebem demais, o marido ....
   Nunca vi tantos pratos, talheres, copos e panelas usados, tanta roupa suja, etc.etc..
   Sempre tem vaso sanitário entupido, óleo derramado no chão, panela queimada...
   Tenho que ficar além do horário, mas com isso eu não me importo porque ela me paga as horas extras sem reclamar.
   Enquanto faço o serviço ouço as novidades do fim de semana que a dona Pulquéria e a Dirce, a vizinha assídua das segundas feiras, trocam entre si. A cunhada que gasta demais, o filho que está querendo divorciar, o primo que foi preso, a vizinha que brigou com o marido...
  A Dirce pergunta:
  — E a Alice?
 — Ah, aquela...
  Não consegui ouvir o que a Alice fez porque elas foram para a sala que eu já tinha limpado e não tinha mais nada para fazer lá.

   Terça feira vou à casa de um casalzinho que trabalha fora o dia todo.
   Conforme o combinado ela deixa a chave da casa embaixo do tapete e o dinheiro do pagamento em cima da mesa. Sempre deixa algum recado também “Se der tempo me faça um bolo de cenoura”...” Se puder pregue este botão pra mim” A peça de roupa está ali com o botão à agulha e a linha e eu fico pensando por que ela mesma não pregou, mas tudo bem.
   A casa é pequena, tudo novo e fácil de limpar. A mãe dela sempre aparece para dar uma conferida e me conta toda a fofoca da família, dos amigos, da vizinhança...

  Quarta feira é o dia do seu Gaspar um velhote que mora sozinho. Além da limpeza e lavagem de roupa ainda faço uns congelados para ele comer durante a semana. A casa é pequena, mas trabalhosa, pois e muito velha, cheia de bugigangas e ele é muito bagunceiro. Tem louça suja da semana toda e roupa, calçados e toalhas espalhadas pela casa. Às vezes encontro algum vestígio de mulher, um batom, uma peça de roupa intima, mas “ela” seja ela quem for só ajuda a fazer desordem. Ele vai dar uma volta enquanto eu trabalho e retorna rigorosamente no horário para me pagar e dispensar sem reparar no que fiz, se fiz ou deixei de fazer.

   Quinta feira é o dia da Clotilde, uma solteirona que mora só e traz a casa sempre muito limpa e em ordem. Quase nem tenho o que fazer e ela fica ao meu lado conversando, contando as novidades dos parentes, amigos, colegas de serviço, que eu até já conheço de tanto ouvi-la falar.
   Às vezes eu penso que ela só me paga para ter com quem conversar.

  Sexta feira é o dia mais difícil. Jurema tem três filhos super. travessos e dois cachorros que fazem toda bagunça que se possa imaginar na casa apertada e no mini quintal. Eu vou limpando e eles sujando de novo Ela sempre me diz que seu sonho é ter uma empregada em tempo integral, mas o marido não concorda, acha que fica muito caro. Sempre fico até muito tarde lá, mas as horas extras que recebo não compensam o trabalho que faço, refaço e acabo saindo sem acabar.

   Sábado vou à casa da Tânia e Rubens, um casal de meia idade, sem filhos que trazem a casa muito limpa e em ordem, mas em compensação são super. exigentes. Querem tudo perfeito, examinam tudo que faço e não se acanham de mandar refazer se não estiver do seu gosto. Reclamam do meu preço. A faxineira da sogra cobra bem menos... Pena que ela não tem dia livre na semana...
    Estou pensando seriamente em deixá-los. Já estou até procurando outra freguesa para o sábado.

   Domingo é dia de “descanso “e eu aproveito para fazer a faxina na minha casa, receber visitas e inteirar-me do que se passou no meu bairro, do que aconteceu com meus amigos e meus familiares.
  
   Trabalho muito, mas em compensação, ouço todas as novidades e, apesar de "não gostar de fofoca", fico sabendo da vida de meio mundo.
   Das coisas que eu sei dá para escrever um livro. Talvez um dia eu faça isso.
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Das Coisas que eu Sei
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Maith
Enviado por Maith em 14/08/2017
Código do texto: T6083217
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