VERSINHOS COM MEU PAI

Bem novo, criança ainda, meu pai me ensinou uns versinhos que não esqueço. Eram outros tempos. Outra época. Não havia a perseguição, a patrulha, muito menos redes sociais de hoje.

Talvez agora, acusariam ele de racista, com esse versinho. Certamente o primeiro que aprendi:

O meu pai é um nêgo veio

Tocador de violão

Toca dia e toca noite

Por um prato de feijão!

Outra trova que meu pai recitava e nós repetíamos, machista talvez, era assim:

Tico-tico do terreiro

Quando chove não se molha

Onde tem moça bonita

Para as feias não se olha!

Hoje, segundo domingo de agosto, dia dos pais, há pássaros na volta da casa recitando velhas lembranças. Alguns ben-te-vis, rolinhas, curruíras, e, na mata próxima, o canto ritmado das saracuras.

Quebrei-três-pots!

Quebrei-três-pots!

Quebrei-três-pots!

Elas chamam a chuva e um versinho que aprendi bem pequenininho, politicamente talvez, não seja correto.

Vejam:

Pica-pau do Mato Grosso

Tem catinga no pescoço

Saracura do banhado

Perna fina e cu cagado!

Estas rimas trazem saudades.

E porque estou dizendo isso?

Hoje é o meu primeiro dia dos pais, sem meu pai!

Porto Alegre, 13 de agosto de 2017.

Jorge Luiz Bledow

E-mail: bledow@cpovo.net