O Tribunal Divino

Lá em cima, sentado com toda a sua majestade. Não se fazia carne, era luz, numa cruz de divindade.

O avistei assim que adentrei em seu recanto celestial. Um de teus súditos sou eu, e por isso, me faço carnal. Não lhe devo visita, eu lhe disse, mas só vim, das minhas dores, a te queixar.

Sereno e silente, ele me permitiu continuar. Assim, confiante eu prossegui: -Oh Pai de todos, por que me deixas sucumbir?

Aquém das ritualísticas espirituais, ao narrar minha experiência já me sentia mal. Além de ti, Ser Supremo, não tenho a quem reclamar. Estão todos entretidos com seus egos a inflamar.

Já tenho mais de duas décadas mas, ainda, não consigo compreender. Como podem se sentir superiores aos Outros se são todos vindos de você?

Quem vos delegou a autoridade? Eles vivem como se fossem permanecer pela eternidade. Me diz, Senhor, é por isso que somos finitos? A Terra é mero instrumento de elevação de espírito?

Então, pelo visto, as lições de Cristo são, intrinsecamente, difíceis de serem alcançadas. É ódio, rancor, vingança, pessoas mal amadas.

Não achas que é injusto nos conceder tal tarefa? Não há como amar o próximo quando o ego nos aputrefa. Senhor, eu tento ser humilde, tento me redimir, mas a soberba alheia me provoca, limita o meu sentir.

Sabia que eles nos medem de cima a baixo?

Sabia que eles nos calam quando falamos além do que pensam sobre nós? Sabia que somos condenados pela cor e somos deixados a sós? Sabia que a cara do mal se manifesta para mim? Sim, meu Senhor, eu não sei o que eu os fiz. Eles não sabem, mas estupram, matam, manipulam mulheres e crianças. Eles construíram muros entre si e brigam pela liderança.

Há corpos pelos mares, há negros pelas praias. Deus, me responde: -Qual a utilidade das muralhas? Há exploração também, de corpos e de trabalho. Dizem que o capital tem que girar e que o suor do Outro em prol de si é necessário. Eu pensava que o nosso esforço era pra conseguir o de comer, mas ostentar status em troca de dinheiro é alma do prazer.

Não te tomo mais o tempo, não lhe trarei más notícias do lar de onde eu venho, mas questiono a insensibilidade dos seres terrenos. Me mostra a luz da consciência Pai, conduz suas ovelhas como um bom Pastor. Os que se dizem pregadores do Evangelho, em verdade, não chegam aos pés do Senhor.

Por que não me avisou que há um valor imaginário aqui na Terra? Sim, uns moram em casebres simples, sem subsistência, e entre si fazem guerra. Outros abusam, cobrem os erros uns dos outros, riem sarcasticamente. Chamam de governo os atos mesquinhos, mas como se não há Justiça descente?

Me responde Senhor, aqui na Terra há resquício de Justiça? O certo está errado e todos aceitam uma democracia postiça.

Vivemos de provocações, de especulações, de remédios que agravam ainda mais a nossa miserabilidade. Não sei se somos o anteprojeto da real plenitude ou se somos a falha de um ideal de prosperidade.

Um dia, ao invés de vim aqui a ti reclamar, te levarei para dar uma volta na Terra comigo. Aliás, deves estar cansado, pelo o que vejo, sabes de tudo o que digo.

Se és onipotente, eu sou impotente e abdico do meu livre-arbítrio.

Toma conta de quem não sabe, que somente executa o ego inundado nas trevas. É difícil viver às escuras, sem ter consciência de Mundo, sem ter sequelas.

Pela ordem, Vossa Majestade Celestial, retiro-me do seu Tribunal!!! Mais tarde voltarei, e te contarei o resto da história, no Juízo Final.

12:23h, 13/08/2017.

Maisalobo
Enviado por Maisalobo em 13/08/2017
Reeditado em 04/07/2018
Código do texto: T6082463
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