_________Reunião de PAIS
Vinte minutos de atraso! Ainda não tinham dado início à reunião de pais, aguardando, como sempre, os retardatários. Ele era um deles. Quando entrou na sala, deu com o grupo de mães já à espera, notou a brusca suspensão da tagarelice reinante, e demonstrando uma autoconfiança que desconhecia, disparou:
— Ué, só nós, mães?
Elas entenderam a brincadeira e riram, o que o deixou mais à vontade. Foi seguido por vários pares de olhos curiosos, até sentar-se à cadeira ao fundo. Sabia que iria constranger um tantinho aquele pequeno auditório de mães que trocavam as mais variadas impressões, todas relacionadas, é claro, ao vasto universo feminino: sentiu-se um estranho no ninho, mas fazer o quê?
Toninha tinha resolvido ir embora, viver a própria vida. Descobrira depois de cinco anos que não tinha sido feita pra casar, nem para ser mãe. Ele, por sua vez, tinha resolvido que seria para Caroline, a filha de sete, o cada vez mais comum Pãe, pai e mãe. Nisso, foi taxativo: a menina ficava. E ficava com ele! Era muito capaz de cuidar da pequena. Sim, e pretendia ser, por completo, o paizão que a filhota bem merecia.
Tudo bem! Ser Pãe incluía também reunião de pais. E ia encarar numa boa a mulherada ali presente. Mesmo que elas o olhassem disfarçadamente como a um bicho raro. E como negar? Naquele momento, sob o fisco dos cílios, sombras, bolsas, esmaltes e saltos altos, e partindo do ponto de que era o único representante da categoria masculina naqueles trinta metros quadrados, ele era mesmo a exceção da hora.
Não demorou muito, reparou que um belo par de olhos o sondavam com estranho interesse, por debaixo dos cílios espessos. Eram bonitos e magnéticos, aqueles olhos acastanhados. Sentiu-se especialmente acolhido. E que grata surpresa! Conhecia muito bem a dona deles. Era a moça da esquina de casa, que por acaso, ele sabia, era Mai, ou seja mãe e pai do pequeno Joaquim, amiguinho de Caroline.
Depois das explanações de praxe, a palavra foi dada às mães... e ao Pãe, o único, naturalmente.
— Então, Sr. Linconh, quer falar alguma coisa?
À citação de seu nome, todos os olhares se voltaram para ele, bateu a insegurança, ficou sem jeito, a voz falhou:
— Não... É... Sim! Posso ir lá fora tomar um copo d’água? Volto loguinho...
Ouviu risinhos abafados, mas levantou-se firme, no que foi encorajado pelos olhos acastanhados que nem se davam mais ao trabalho de dissimular. Fora do território ameaçador, respirou profundamente. Dirigiu-se aliviado ao bebedouro. Tomou um revigorante gole d’água e munido de extrema coragem retornou à sala: agora sim, ia falar! E falar muito! E falar bonito! Principalmente para impressionar certos olhos que já começavam a tomar conta dele... Quando seria mesmo a próxima reunião de Pães, hein?
*Inspirado no depoimento de um Paizão muito especial, a quem deixo meus parabéns sinceros pelo dia de hoje e todos os outros!!
*Dedicado a todos que, independente de gênero, são Pais e Mães exemplares.
— Ué, só nós, mães?
Elas entenderam a brincadeira e riram, o que o deixou mais à vontade. Foi seguido por vários pares de olhos curiosos, até sentar-se à cadeira ao fundo. Sabia que iria constranger um tantinho aquele pequeno auditório de mães que trocavam as mais variadas impressões, todas relacionadas, é claro, ao vasto universo feminino: sentiu-se um estranho no ninho, mas fazer o quê?
Toninha tinha resolvido ir embora, viver a própria vida. Descobrira depois de cinco anos que não tinha sido feita pra casar, nem para ser mãe. Ele, por sua vez, tinha resolvido que seria para Caroline, a filha de sete, o cada vez mais comum Pãe, pai e mãe. Nisso, foi taxativo: a menina ficava. E ficava com ele! Era muito capaz de cuidar da pequena. Sim, e pretendia ser, por completo, o paizão que a filhota bem merecia.
Tudo bem! Ser Pãe incluía também reunião de pais. E ia encarar numa boa a mulherada ali presente. Mesmo que elas o olhassem disfarçadamente como a um bicho raro. E como negar? Naquele momento, sob o fisco dos cílios, sombras, bolsas, esmaltes e saltos altos, e partindo do ponto de que era o único representante da categoria masculina naqueles trinta metros quadrados, ele era mesmo a exceção da hora.
Não demorou muito, reparou que um belo par de olhos o sondavam com estranho interesse, por debaixo dos cílios espessos. Eram bonitos e magnéticos, aqueles olhos acastanhados. Sentiu-se especialmente acolhido. E que grata surpresa! Conhecia muito bem a dona deles. Era a moça da esquina de casa, que por acaso, ele sabia, era Mai, ou seja mãe e pai do pequeno Joaquim, amiguinho de Caroline.
Depois das explanações de praxe, a palavra foi dada às mães... e ao Pãe, o único, naturalmente.
— Então, Sr. Linconh, quer falar alguma coisa?
À citação de seu nome, todos os olhares se voltaram para ele, bateu a insegurança, ficou sem jeito, a voz falhou:
— Não... É... Sim! Posso ir lá fora tomar um copo d’água? Volto loguinho...
Ouviu risinhos abafados, mas levantou-se firme, no que foi encorajado pelos olhos acastanhados que nem se davam mais ao trabalho de dissimular. Fora do território ameaçador, respirou profundamente. Dirigiu-se aliviado ao bebedouro. Tomou um revigorante gole d’água e munido de extrema coragem retornou à sala: agora sim, ia falar! E falar muito! E falar bonito! Principalmente para impressionar certos olhos que já começavam a tomar conta dele... Quando seria mesmo a próxima reunião de Pães, hein?
*Inspirado no depoimento de um Paizão muito especial, a quem deixo meus parabéns sinceros pelo dia de hoje e todos os outros!!
*Dedicado a todos que, independente de gênero, são Pais e Mães exemplares.