Em andanças por Salvador

E lá vamos nós novamente para o centro da cidade para mais um dia de trabalho. Mas antes disso, da ladeira, olharemos o mar. Ah o mar! Como é lindo!

“Bendito o dia em que eu lhe encontrei por aqui. Já faz um ano que passo minhas semanas por aqui e não consigo visualizar o final do projeto no qual estou trabalhando. Lembro-me que a previsão era de três meses. Só rindo! Esses homens não sabem o que querem! Vez ou outra eu penso que eles gostam de gastar dinheiro à toa, já que todas as inovações que fazemos são totalmente substituíveis em pouco tempo neste mundo tão frenético no qual vivemos.

Estou cansada Seu José. Lembre-se de que eu sou do Sul e estou em Salvador há tanto tempo que até já peguei um certo sotaque. O senhor acredita que eu já acostumei com a comida e com todo o azeite de dendê? Pois é! Veja com o que a gente não acostuma na necessidade.

Mas eu não aguento mais ficar no Hotel, sentir o mesmo cheiro do quarto todos os dias e só mudar o olhar no café da manhã. Se não é o senhor para encher o meu mundo por aqui eu não sei o que seria de mim.

E quem foi que disse que uma Consultora tem um mundo diferente de um Taxista? Os nossos mundos são muito parecidos. Já conversamos tanto que sabemos que gostamos de muitas coisas parecidas, especialmente aleitura. Sabemos que corremos todos os dias para tentar ludibriar a nossa solidão, especialmente em família.

O senhor já pensou que a nossa família pode ser maior do que imaginamos? Que a partir deste ano o senhor fará parte da minha vida, mesmo com tantos quilômetros de distância? Já pensou quantos livros ainda trocaremos?

Ah não! Já estamos chegando ... novo dia de trabalho e lá vamos nós, mas não sem antes firmarmos um pacto: no meu último dia por aqui, quando da minha ida para o aeroporto o senhor se incomodaria em parar em qualquer praia para juntos tomarmos uma água de coco, sentados na areia?

Não estranhe Seu José! É que a vida anda tosca, os sentimentos meio reprimidos, o tempo curto demais e uma preciosidade como o nosso convívio neste ano precisa ser brindada para que a gente possa dizer que o mundo não se perdeu por aí.

Tenha um bom dia! Esperarei o senhor, como sempre, às dezoito horas para subir a ladeira e deparar-me com o mesmo cheiro do quarto do hotel.”

(Publicada na obra PROSA NA VARANDA 4, lançada em 25/07/2017)

Rosalva
Enviado por Rosalva em 10/08/2017
Código do texto: T6080101
Classificação de conteúdo: seguro