Conversa mal falada
A concessionária de energia de nosso estado por esses dias está propondo numa de suas campanhas de marqueting via rádio, uma reflexão interessante: “imagine sua vida sem energia elétrica”. Isso talvez seja difícil de imaginar para muitas pessoas, sobretudo as mais jovens. Os mais velhos certamente concluirão: não será o fim do mundo. É que muitos de nós alcançamos um restinho de tempo sem tal conforto e cá estamos. Sabemos que a humanidade ganha e também perde muito com o avanço da tecnologia. E isso é normal, claro! Fiz a tal reflexão sugerida e lembrei-me de um tempo em que quis que meus filhos ainda pequenos fizessem tal reflexão, até porque, na medida em que compreendessem os benefícios de tal regalia talvez se tornassem mais parcimoniosos no aproveitamento da mesma.
Na época eu possuía uma pequena chácara no Buriti, com uma pequena construção de feitio ordinário, mas que se tornou um agradável refúgio para minha família e alguns amigos mais chegados, nos finais de semana, logo na sexta, tão logo as obrigações do emprego nos permitia, costumávamos correr para o sossego de lá e só retornar para a muvuca da cidade à tardinha de domingo a tempo de não perder a missa. A peculiaridade é que, um pouco de propósito, me demorei um pouco para pedir a ligação da energia elétrica no imóvel e isso tornava tudo mais interessante. Usávamos a velha lamparina a querosene e tínhamos um lampião a gás que iluminava a varanda e boa parte do quintal onde as crianças brincavam enquanto, quase sempre meu Compadre Ozanam e eu cozinhávamos um bom tira-gosto no fogão de lenha improvisado e as mulheres mantinham na cozinha uma interminável conversa sem o prejuízo dos distrativos eletrônicos.
Bom! Vamos lá ao fato que me trouxe nessa embromação até aqui. Aconteceu que num certo final de semana fiquei retido por compromissos na cidade, as crianças seguiram com amigos para a tal “roça” na tarde de sexta. Minha mulher seguiria mais tarde com o compadre Ozanam. Lembrava-me que a camisinha do lampião tinha dado no barro e que já havíamos conversado sobre a necessidade de comprar o tal dispositivo para a reposição. Quando o compadre estacionou à minha porta eu conversava com amigos na calçada, ele nem desceu do carro ansioso por chegar àquele lugar de descanso, minha mulher beijou-me e entrou no carro, antes que saíssem acelerados eu gritei para eles:
_ Não se esqueçam de levar a camisinha.
O compadre apenas assentiu com o polegar para cima e lá se foram.
Quando percebi o inusitado da situação e a forma como os circunstantes me olhavam, dei a única explicação possível:
_ É pro lampião. Entendem?
Acho que não entenderam nada.