O outro lado.
Sentada no banco frio da praça, embaixo de uma sombra refrescante da única árvore ali, lá estava ela, cansada e desanimada.
Os olhos fixos no papel, o pensamento longe. No pensamento era mulher destemida, respeitada, independente, cheia de charme e elegância, era como se o mundo todo parasse para vê-la e ouvi-la, vivia em um reality show.
Por dentro, uma mulher indomável, por fora, uma coitada...
Até quando seria esta pessoa que passava despercebida na multidão? Que não faz diferença estar ou não em um lugar?
O vai e vem dos carros, ora uma pessoa, ora outra na calçada e ela ali, vendo cegamente o mundo passar diante dos olhos, parada, sem agir, como se fosse conquistar o mundo com pensamentos. Era só uma pessoa desanimada e descrente, ausente no palco da vida.
Ausente foi, mas não pra sempre.
Embaixo da sombra refrescante, sentou-se também um homem, cansado, desanimado...
Os olhos atentos ao redor, as pernas inquietas , o pensamento longe, mas não muito longe, pois fazia um esboço rápido e objetivo do que tinha que cumprir. No pensamento dele, era só um homem com medos e frustrações, mas na realidade, era forte, destemido, respeitado e notado.
Por dentro, um aprendiz, por fora, um grande mestre...
O vai e vem dos carros, ora uma pessoa, ora outra na calçada, e aqueles dois ali, sentados, um ao lado do outro, tão próximos em distância e tão longe em suas identidades. Mas, como o acaso da vida é cheio de surpresas, eis que as pernas inquietas e os olhos atentos encontraram os olhos fixos e ausentes e os levou para viver os sonhos tão sonhados. Mas não em um lugar longe e irreal, levou os olhos tristes a descobrir a vontade de deixar a sombra refrescante e atravessar para conhecer e experimentar o outro lado...