NO FINAL TODOS TROPICAMOS

Hoje, lá pela meia tarde, avistei um automóvel, que utilizei por seis anos.

Nele, dei, aliás demos, eu e mais meia duzia de assessores, pelo menos volta e meia na terra.

Ele nem olhou-me, pelos segundos que nos ladeamos durante a parada no semáforo.

Quando ele partiu, dei-lhe luz, de dois carros, só então dei-me conta que os anos o castigaram, aliás, ambos estamos castigados.

Daquela safra, a maioria já deve ter virado sucata, por isto senti-me envaidecido, pelos cuidados que dispensamos com ele, eu é o staff que o utilizava.

Logo a vaidade, a nostalgia, a felicidade por tê-lo visto, ainda com vida, deram lugar a um sentimento de raiva, quase ódio.

Lembrei-me que, pelos cuidados que dispensávamos ao prezado companheiro, ele sempre estava, como se tivesse saído da fábrica e assim os espertos, nos passavam a perna, furando a fila, recebendo um ou mais veículos, ao invés, de nós.

Na ocasião eu pensa que era a valorização de quem não merecia.

Enfim a raiva passou e os espertos estão por ai, já sem o tal poder de passar os outros para traz, todos tropicando, de vez em quando, como qualquer idoso da nossa idade.

No final todos tropicamos, até em pedras invisíveis. Daqui fico de olho, assistindo muitos dos espertos tropicarem e me cuido para não odiar, mas somente dar risadas.

Ainda bem que defendia-me bem dos tropicões e passadas de pé, graças ao aprendizado na roda de capoeira.

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 09/08/2017
Reeditado em 09/08/2017
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