EU RETIVE O TEU OLHAR
EU RETIVE O TEU OLHAR
Era noite... Lá fora, uma chuva miúda caía e molhava todos os sonhos e desejos deste mundo. Dentro de um restaurante, sentados frente a frente, degustávamos um rodízio de massas. Pedi uma taça de vinho tinto; ela não bebia nada que contivesse álcool e pediu uma coca-cola com gelo e limão. Era o nosso primeiro encontro, após um longo convívio travado por meio de um site de relacionamento. A beleza dela se revelava ainda mais encantadora que as suas belas fotos postadas em seu perfil. Eu a contemplava , em profundo êxtase. Falamos da vida, dos sonhos, dos riscos escondidos nos labirintos do amor, das nossas ilusões e desilusões; dos encantos e desencantos da paixão e do amor ; enfim, da magia inebriante que é a graça de se estar vivo e poder, sempre, recomeçar.
Não sei quantas pessoas estavam naquele restaurante; para mim, só estávamos nós dois. De repente, nossos dedos se tocaram e, como se ansiássemos – desde a eternidade – por esse momento, nossas mãos se entrelaçaram. Estremeci, diante daquele contato e senti um calor subir pelo meu braço, com destino ao meu coração; percebi que ela também tremia. Não tive forças para olhar para ela, pois tudo parecia irreal, mágico demais para ser verdade. Fechei os olhos e me entreguei àquela doce sensação; não me atrevia a abri-los, pois temia abri-los e não mais a encontrar. Foi então que eu senti a delicadeza da mão dela acariciar o meu rosto, descer até o meu queixo e elevar suavemente a minha cabeça . Senti a sua aproximação; senti a sua respiração leve e morna; minhas narinas foram invadidas por um doce e extasiante perfume; e foi então que eu senti o leve roçar dos seus lábios, entreabrindo suavemente os meus. Entregamo-nos a um beijo leve, doce; desses beijos que não querem acordar ou inflamar o corpo, mas, a alma. Quanto tempo durou? Não sei precisar ao certo; talvez uns quinze segundos... talvez, uma eternidade.
Sutilmente, ela se afastou. Em transe, abri os olhos e foi então que eu contemplei o mais espetacular sorriso que uma mulher poderia ofertar a um homem. Por ser um sorriso que vinha do coração e da alma, não coube em seus lábios carnudos e inundou também o seu olhar. O sorriso era diferente... O olhar era diferente... Tinha algo de divino e angelical neles. E, subitamente, veio-me um arrepio que invadiu todo o meu ser; uma percepção da finitude de todas as coisas mágicas e magnetizantes desta vida. Assim sendo, mergulhei naquele olhar e naquele sorriso e neles me encontrei e me perdi. De repente, graciosamente, ela ocultou o encantador e mágico sorriso por detrás de um alvo guardanapo de papel; agora, somente os seus olhos me sorriam. Demorei-me naquele olhar verde-esmeralda e decidi retê-lo em mim. Retive o olhar e o sorriso!
Chegou a hora de partir. Dirigimo-nos para a saída e, sob a chuva fina, acompanhei-a até o táxi que se encontrava estacionado em frente ao restaurante. Ela deu-me um cálido beijo nos lábios e entrou no carro, que arrancou veloz, indiferente à minha saudade antecipada. Pouco adiante, ela se voltou e acenou-me com a sua fina e delicada mão; não consegui ver seus olhos, muito menos, se ainda sorria. E ela foi engolida pela noite insensível...
Parado, ali na calçada, sob a fina chuva, senti os olhos úmidos; fechei-os, lentamente, e duas lágrimas lavaram a fragilidade da minha essência.
Não mais nos vimos, por motivos que não cabem numa folha de papel. Conforta-me saber que para mais ninguém ela dirigirá aquele olhar e aquele sorriso... para mais ninguém! Aquele olhar... Aquele sorriso... Não mais estão com ela! Eu os retive em mim!
Alexandre Brito – 22/01/2013 – 13:15