NO FUNDO DO BAÚ

Passaram-se dez ou vinte anos e quando abrimos o nosso baú está lá uma montanha de guardados, de papéis, de lembranças, roupas e coisas que nos fazem lembrar de certos momentos vividos. Também se encontra lá uma fila de materiais e documentos que já poderiam ter ido para o lixo há muito tempo. Descobrimos que temos muito mais materiais guardados, que não nos servem ou que já perderam seu valor sentimental ou econômico. Todo esse montante de peças soltas estão muitas vezes apenas ocupando espaço. São roupas, calçados, caixas e tudo o que somente está ali deixado, despejado, depositado no fundo de um baú ou no profundo de um quarto vazio e escuro. Quem precisa de tudo isso? De repente juntamos demais, mas talvez não o essencial. “As três coisas mais difíceis do mundo são: guardar um segredo, perdoar uma ofensa e aproveitar o tempo” - palavras do cientista, diplomata e enxadrista estadunidense, Benjamin Franklin.

Nos últimos meses temos visto uma variação climática no país que assolou a todos nós. E percebemos também que enquanto aqui no Brasil estávamos com temperaturas baixíssimas, em outros continentes alguns até morreram pela alta temperatura em países em que o normal são dias bem mais amenos que os nossos. Pois bem, compreendemos que aqui, por exemplo, alguns estavam nas noites frias com dificuldades extremas, nas ruas com fome e sem o mínimo necessário para sobreviver. Por outro lado em nossas casas, as nossas dispensas estão agrupadas com comidas em grande quantidade e por vezes em nossos baús guardamos agasalhos e todo o tipo de roupa sem a menor necessidade. Por que então não nos desfazermos de tudo isso que apenas está juntando poeira e por que não dar um pouquinho a quem precisa para que o outro tenha um momento de alegria e de felicidade? Lembremos das palavras de sabedoria do monge agostiniano e professor de teologia germânico Martinho Lutero - “deve-se doar com a alma livre, simples, apenas por amor, espontaneamente!”

Nós, os seres humanos, temos muito disso – por vezes somos indolentes, saudosos, nostálgicos e enxergamos apenas onde as vistas alcançam e pensamos assim, de maneira fechada, que o mundo é maravilhoso. Contudo é preciso bem mais força nos pés, é impreterível muito mais desbravar lugares em que conferiremos que o nosso mundo não é tão encantado assim. Há muito o que podemos fazer para sermos melhores e para que além disso possamos contribuir com a humanidade, na condução de paz, sabedoria, pão e calor! Jesus Cristo em sua humildade e mansidão mostrou a todo o gênero humano de seu tempo e a todos nós do século XXI, que amar é muito mais do que ir atrás para a conquista, que é copiosamente mais que erguer o troféu da vitória, que é bem mais do que um forte desejo ou o egocentrismo do que temos e que permanece trancado conosco como se fosse um tesouro intocável. Esse grau de afeição profetizado e propagado por Ele é tão superior e está em um elevado grau de tamanha graduação e aperfeiçoamento espiritual, que muitos de nós ainda não temos a visão ou o sentimento e empatia do que se possa conceituar esse imenso valor de evolução. A escritora gaúcha, Clarisse Correa, nos alerta que “amar também é isso. É se doar, é cuidar do outro mesmo estando machucado, é ceder, é estar do lado, é se sentir acolhido num abraço, é ter um ponto de paz.”

Ele (o Cristo) nos ensina que carecemos amar sem esperar nada em barganha. Do mesmo modo, devemos entregar pelo menos um bocado do que temos e compartilhar com outro. Pois a felicidade plena, o amor no mais puro sentido da palavra possa se realizar em não somente lutar, não somente, conquistar, não simplesmente erguer a taça. O homem mais inteligente da história nos ensina a compreender que o amor se realiza concretamente e totalmente, quando entendemos que tudo que possuímos pode ser algo vago, individualista, fraco. Que a verdadeiramente paz se completa quando mesmo almejando ter tudo, possamos rasgar um pouco desse tudo e oferece-lo em doação ao outro que não tem; que sejamos capazes de nos sentir fielmente felizes quando depreendemos que o outro, que não tinha nada, que não conseguiu ou apenas tem o mínimo; que então repartamos o que tínhamos, com ele para que tanto ele, quanto todos nós, nos permitamos ser felizes no sorriso, no olhar e no abraço do outro. Para o Cristo, amar é doar-se inteiramente em busca de uma causa, que às vezes possa estar perdida aos olhos de muitos. Aprendamos com Ele para que possamos dia a dia crescer em espírito e em humanidade.

Michael Stephan
Enviado por Michael Stephan em 06/08/2017
Código do texto: T6075847
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